sexta-feira, 28 de setembro de 2007

NEOLOGISMO












BORIS PASTERNAK E A POESIA DO LESTE EUROPEU


Boris Pasternak

(Moscou 1890- Peredelkino1960)

Poeta e romancista russo

O DOM DA POESIA

Deixa a palavra escorregar,
Como um jardim o âmbar e a cidra,
Magnânimo e distraído,
Devagar, devagar, devagar.

Tradução de Augusto de Campos

terça-feira, 25 de setembro de 2007

CIO

Enzo Carlo Barrocco




Olha-se
nua, inquieta,
égua branca no cio,
inquieta;
a imagem lhe salta à frente
do espelho;
longos dedos no rego semiglabro

Verga-se à frente, afasta as pernas,
vulva inquieta,
afaga a lingüeta carmim.
- sépala viscosa.
O suco ensopa o dedo;
magma hormonal inundando a cava.


A POESIA MAIOR DE MANUEL BANDEIRA


Manuel Bandeira
Recife 1886 - Rio de Janeiro 1968
Poeta, cronista e ensaísta pernambucano


Rondó dos Cavalinhos

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

TIA ZIRLA

Miniconto
por Enzo Carlo Barrocco
Eram, sem bem me lembro, sete horas da manhã. Havia uma “puxada” da cozinha para trás, onde se tomava o café da manhã, se almoçava, se conversava. Tia Zirla (21 anos completados), vinda de Baieux, ficara conosco alguns dias. Casa do interior você sabe, o banheiro é longe. Então, naquela manhã, ouvi um sibilo para um dos lados da casa. Eu, sozinho que estava, levantei-me para ver o que era, por curiosidade, apenas. Só inclinei a cabeça para ver por trás da parede. Nossa!!! Meu coração subitamente acelerou e fiquei estático no alto dos meus 12 anos. Tia Zirla agachada ao pé de uma planta urinava despreocupadamente. Ai! Bem de frente para onde eu estava. Diante daquela esplêndida e fascinante visão comecei a tremer. Que sexo lindo ela tinha - lábios grossos, clitóris rubro, delicadamente depilado nas extremidades. Ao fim de tudo e sem que ela me visse corri como um louco para o cipoal.


sexta-feira, 21 de setembro de 2007

A PAISAGEM EM FRENTE




OSWALD DE ANDRADE: UM MODERNISTA DE QUATRO COSTADOS


OSWALD DE ANDRADE
São Paulo 1890 – Idem 1954
Poeta, romancista e dramaturgo e jornalista paulista

A DESCOBERTA

Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

COM ISMAEL NERY POR OUTROS CAMPOS DE TRIGO

por Enzo Carlo Barrocco



Ismael Nery, pintor, desenhista, ilustrador, cenógrafo, poeta e filósofo paraense (Belém 1900 – Rio de Janeiro 1934) aos nove anos de i
dade se mudou com a família para a então Capital Federal. Em 1915, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, no entanto a abandonou algum tempo depois, pois não se adaptou à disciplina escolar. Em 1920, viajou para a Europa tendo freqüentado a Academia Julian, em Paris. Voltou ao Brasil algum tempo depois vindo a trabalhar no Patrimônio Nacional do Ministério da Fazenda, onde conheceu o poeta Murilo Mendes (Juiz de Fora 1901 – Lisboa 1975), seu amigo por toda a vida. Em 1922 casou-se com a poeta Adalgisa Ferreira (Rio de Janeiro 1905 – Idem 1980) que depois viria a ser conhecida como Adalgisa Nery. Em 1926, Ismael deu início a um sistema filosófico de fundamentação católica e neotomista, cujo nome Murilo Mendes batizou de Essencialismo, mas esse sistema em nada se converteu visto que Ismael não deu prosseguimento a ele. Em 1927 fez outra viagem à Europa onde entrou em contato com o pintor bielorusso Marc Chaggal (Vitebsk 1887 — Saint-Paul-de-Vence, França, 1985) e outros pintores surrealistas. Sua obra sofreu influências importantes como a metafísica do pintor italiano nascido na Grécia Giorgio de Chirico (Vólos 1888 – Roma, Itália 1978) e do cubismo do pintor espanhol Pablo Picasso (Málaga 1881 – Mougins, França 1973). A figura humana, retratos, auto-retratos e nus são as suas preferências. Trabalhou, também, em várias técnicas aplicadas em desenhos e ilustração de livros. Em 1931, contraiu tuberculose e, a partir daí, suas figuras tornaram-se mais viscerais e mutiladas. Durante os seus 33 anos de vida participou somente de três exposições individuais e outras quatro coletivas. Esquecido por mais de 30 anos foi resgatado a partir da VIII Bienal de São Paulo, em 1965. Nery era um homem à procura de si mesmo. Renegava veementemente a condição de pintor, preferindo ser filósofo. Mendes escreveu para o jornal o Estado de São Paulo: “...Nery achava que muitas intenções da pintura já estavam realizadas definitivamente; por exemplo, a primeira vez que viu Tintoretto, achou inútil continuar a pintar...”. Os críticos dividem a obra de Nery em três fases: de 1922 a 1923, a expressionista; de 1924 a 1927, a cubista, com evidente influência da fase azul de Pablo Picasso; finalmente, de 1927 a 1934, adotou o surrealismo, sua fase mais importante e promissora. Murilo Mendes preservou alguns desenhos e poesias de seu amigo, sendo responsável pelo redescoberta de Nery nos anos 1960. Portanto, meus amigos, homenageemos Ismael porque homenagens, sob todos os aspectos, ele merece.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

JIRAU DI/VERSO nº 9

JIRAU DIVERSO
Nº 09 – novembro.2006por Enzo Carlo Barrocco
A poesia sul-mato-grossense de Raquel Naveira
O POEMA
JASMIM-DO-CABO

Todo jardim deveria ter um jasmim-do-cabo,
aquela flor que perfuma,
embalsama,
derrama óleo grosso
nos pés da noite.
Todo jardim deveria ter um jasmim-do-cabo,
o dia transcorreria em agonia,
mas a lua viria
desatar os laços da magia
e nos tiraria o fôlego.
Todo jardim deveria ter um jasmim-do-cabo,
absorveríamos no pulmão
uma torrente de pétalas brancas
e voaríamos como anjos
tocando banjos na noite.


A POETA

Raquel Naveira, sul-mato-grossense de Campo Grande, poeta e ensaísta, no convés da fragata desde 1957, é uma das poetas mais engajadas no que se refere às atividades culturais do Centro-Oeste. A poesia pura, direta e que pode ser bebida na concha da mão chamou a atenção de famosos escritores como Lygia Fagundes Telles, Antônio Houaiss e Ledo Ivo que reconhecem e apreciam o belíssimo trabalho de Raquel que, inclusive, pertence à Academia Sul-mato-grossense de Letras.
***

ESTANTE DE ACRÍLICO

Livros Sugestionáveis


“Pra Valer a Vida” (poesias)
Autor: Dalton Luiz Gandin
Edição do Autor
Um pequeno, mas excelente livro de Gandin, poeta de São José dos Pinhais – PR. Trova, hai-kais e poemas livres ilustrados com belas fotos em preto-e-branco.

“O Nariz Curvo” (contos)
Autor: Haroldo Maranhão
Edição: Secult / Imprensa Oficial do Estado do Pará
A escrita de Haroldo Maranhão é uma navalha afiadíssima. Aqui oito contos habilmente construídos. Alguns pornograficamente belos.

“Poemas de Angola” (poesias)
Autor: Agostinho Neto
Edição: Editora Crodecri Limitada
A poesia engajada pela sofrida África colonialista, mormente Angola, à época mergulhada numa guerra civil sem precedentes. Agostinho Neto se tornaria o primeiro presidente Angolano.

***

A FRASE DI/VERSA
Na adversidade conhecemos os recursos de que dispomos.
- Horácio (Venúsia 65 – Roma 8 a.C.) poeta romano

***

DA LAVRA MINHA



PAULO MENDES CAMPOS E A POESIA DAS ALTEROSAS


PAULO MENDES CAMPOS
Belo Horizonte 1922 – Rio de Janeiro 1991
Poeta, contista e cronista mineiro


NESTE SONETO


Neste soneto, meu amor, eu digo,
Um pouco à moda de Tomás Gonzaga,
Que muita coisa bela o verso indaga
Mas poucos belos versos eu consigo.

Igual à fonte escassa no deserto,
Minha emoção é muita, a forma, pouca.
Se o verso errado sempre vem-me à boca,
Só no peito vive o verso certo.

Ouço uma voz soprar à frase dura
Umas palavras brandas, entretanto,
Não sei caber as falas de meu canto

Dentro de forma fácil e segura.
E louvo aqui aqueles grandes mestres
Das emoções do céu e das terrestres.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O DIÁRIO DOS PENSADORES - PÁGINA 10

Tens nos lábios o olvido mais perfeito
E o letes vai fluindo nos teus beijos.
- Charles Baudelaire (Paris 1821 – Idem 1867) poeta francês

A arte é a tocha sagrada que ilumina compassivamente as mais terríveis profundezas, os abismos vergonhosos e torturados do ser.
- Thomas Mann (Lübeck 1875 – Zurique, Suíça 1955) romancista alemão

Não faças nada que teu inimigo possa saber.
- Sêneca (Córdoba, na atual Espanha 04 a.C. – Roma 65 d. C.) dramaturgo, filósofo e político romano

Eu agora – que desfecho!
Já nem penso mais em ti.
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
- Mário Quintana (Alegrete 1906 – Porto Alegre 1994) poeta, contista e jornalista gaúcho

A religião entre os homens é um campo cultivado por medo ou por interesse.
- Kahlil Gibran (Bsharri 1883 – Nova York 1931) poeta libanês

É que fui condenado a viver do que cantar.
- Djavan (Maceió 1949) cantor e compositor alagoano

O entusiasmo é o sal da alma.
- Santo Agostinho (Tagasta, atual Souq-Ahras, Argélia 354 – Hipona, Numídia 430) religioso, católico e teólogo romano, santo da igreja católica

O amor jamais consulta os registros do estado civil.
- Honoré de Balzac (Tours 1799 – Paris 1850) romancista francês

Sou um cavalo de um arreio só que não foi destinado à atrelagem ou ao trabalho em equipe.
- Albert Einstein (Ulm 1879 – Princenton 1935) físico americano nascido na Alemanha

Aquele que Deus quer salvar pode fazer o que quiser e será preservado.
- Mahatma Gandhi (Porbandar 1869 – Nova Delhi 1948) líder pacifista e político indiano.

Quem se mostra facilmente seduzido, facilmente se torna sedutor.
- Eça de Queiroz (Povoa do Varzim 1845 – Paris 1900) contista e romancista português

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

ALVARENGA PEIXOTO: O POETA INCONFIDENTE


Inácio José Alvarenga Peixoto, poeta fluminense (Rio de Janeiro 1744 – Ambaca, Angola 1793), estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro, assim como na Universidade de Coimbra, em Portugal, onde conheceu o poeta Basílio da Gama (São José do Rio das Mortes, atual Tiradentes - MG 1740 – Lisboa, Portugal 1795) de quem se tornou um grande amigo. Exerceu o cargo de Juiz de Fora da Vila de Sintra em Portugal, bem como a de Senador pela cidade mineira de São João Del-Rei. Também exerceu o cargo de Ouvidor da comarca de Rio das Mortes. Alvarenga, por esse tempo, se dedicou à agricultura e à mineração. O poeta tinha um caráter entusiasta e generoso, mas, ao mesmo tempo era ambicioso e perdulário. Com isso conquistou amigos, inimigos e muitas dívidas. Foi amigo dos poderosos da época e partilhava com os demais intelectuais de seu tempo idéias libertárias advindas do Iluminismo. Por fim, pressionado pelas dívidas e pelos altos impostos, acabou se envolvendo na Inconfidência Mineira. A temática amorosa era uma das vertentes da poesia de Alvarenga Peixoto que era casado com a poeta Bárbara Heliodora (São João Del-Rei, MG 1758 – São Gonçalo do Sapucaí 1819). Alvarenga era amigo dos poetas Cláudio Manoel da Costa (Ribeirão do Carmo, atual Mariana, MG 1729 – Vila Rica, atual Ouro Preto 1789) e Tomás Antônio Gonzaga (Porto, Portugal 1744 – Maputo, Moçambique 1810). Em seus poemas é fácil perceber uma postura crítica quanto à sociedade da época. Entre os poetas árcades, Alvarenga foi o que mais se envolveu na Conjuração. Sua diminuta obra foi recolhida por Rodrigues Lapa e apresenta alguns dos sonetos mais bem acabados do arcadismo brasileiro. O poeta freqüentava constantemente Vila Rica. Denunciado como participante da trama foi deportado para Angola onde veio a falecer. Fiquemos, portanto, com três raríssimas jóias produzidas pelo vasto universo da mente de Alvarenga.

À D. BÁRBARA HELIODORA

(Poema dedicado à sua esposa,
remetido do cárcere da Ilha das Cobras)

Bárbara bela, Do Norte estrela,
Que o meu destino Sabes guiar,
De ti ausente Triste somente
As horas passo A suspirar.

Por entre as penhas De incultas brenhas
Cansa-me a vista De te buscar;
Porém não vejo Mais que o desejo,
Sem esperança De te encontrar.

Eu bem queria A noite e o dia
Sempre contigo Poder passar;
Mas orgulhosa Sorte invejosa,
Desta fortuna Me quer privar.

Tu, entre os braços, Ternos abraços
Da filha amada Podes gozar;
Priva-me a estrela De ti e dela,
Busca dous modos De me matar!


À MARIA IFIGÊNIA

Em 1786, quando completava sete anos.

Amada filha, é já chegado o dia,
Em que a luz da razão, qual tocha acesa,
Vem conduzir a simples natureza:
— É hoje que teu mundo principia.

A mão que te gerou, teus passos guia;
Despreza ofertas de uma vã beleza,
E sacrifica as honras e a riqueza
Às santas leis do Filho de Maria.

Estampa na tu' alma a Caridade,
Que amar a Deus, amar aos semelhantes,
São eternos preceitos de verdade;

Tudo o mais são idéias delirantes;
Procura ser feliz na Eternidade,
Que o mundo são brevíssimos instantes.


DE AÇUCENAS E ROSAS MISTURADAS

De açucenas e rosas misturadas
não se adornam as vossas faces belas
nem as formosas tranças são daquelas
que dos raios do sol foram forjadas.

As meninas dos olhos delicadas,
verde, preto ou azul não brilha nelas;
mas o autor soberano das estrelas
nenhumas fez a elas comparadas.

Ah, Jônia, as açucenas e as rosas,
a cor dos olhos e as tranças d'oiro
podem fazer mil Ninfas melindrosas;

Porém quanto é caduco esse tesoiro:
vós, sobre a sorte toda das formosas,
inda ostentais na sábia frente o loiro!

O POÉTICO MINICONTO DE JORGE TIMOSSI


Jorge Timossi
Buenos Aires 1936
Poeta, contista e jornalista cubano nascido na Argentina

migração

O funcionário da alfândega abriu a maleta de couro gasto, comprovou que aquele imigrante levava apenas sua pesada tragédia pessoal, fechou-a com muito cuidado e murmurou, como se não se referisse a ninguém em particular: "Passe, de qualquer maneira acho que não vai lhe ser de nenhuma utilidade."

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

AS VAQUINHAS ERAM AS LOCUTORAS

Crônica
por Enzo Carlo Barrocco


Renan: desmoralizando todo um país

Já nem temos o que falar da sujeira da política brasileira. É de uma sordidez, que cada vez que sabemos de uma falcatrua, ficamos de boca aberta, silenciosamente abestalhados. Vejam o caso do senador Renan Calheiros acusado de vários atos ilícitos desde o dia 26 de maio passado quando a Revista Veja revelou, primeiramente, que Renan recebia recursos da empreiteira Mendes Júnior, por intermédio do lobista Cláudio Gontijo, para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso. De acordo com a revista, o lobista arcaria com o pagamento do aluguel de R$ 4.500,00 de um apartamento de quatro quartos em Brasília, assim como da pensão mensal de R$ 12.000,00 recebida pela jornalista que tem uma filha com o senador. Dois dias depois, Renam foi à tribuna do Senado para pedir perdão à família e desculpas ao lobista Cláudio Gontijo pela exposição do seu nome. Que desfaçatez! Daí para frente foi uma enxurrada de denúncias, gerando então vários processos na cabeça do senador. A própria Mônica Veloso afirmou, através de seu advogado que recebia os pagamentos do lobista Cláudio Gontijo, em dinheiro vivo. Evidentemente que Renan se defendeu, mas o Jornal Nacional, da Globo, informou que foram encontradas supostas irregularidades dos documentos apresentados por Renan na Defesa feita ao conselho de Ética. O senador Epitácio Cafeteira, não levou em consideração esta informação, pois disse que seu relatório foi elaborado anteriormente às denúncias do jornal. Alguns dias depois novas denúncias afirmavam que o senador usava notas frias para comprovar venda de gado de suas fazendas no valor de R$ 1,9 milhão num espaço de tempo de quatro anos. Mostrou documentos, mas a Polícia Federal os recolheu para fazer análise de notas fiscais, cópias de cheques e guias de trânsito animal disponibilizados por Renan. Depois de mais denúncias e muitas idas e vindas, Renan ainda foi acusado de ser sócio oculto de uma empresa de comunicação de Alagoas. Ele teria usado “laranjas” e pago 1,3 milhão em dinheiro vivo, parte em dólares, para virar sócio de duas emissoras de rádio em Alagoas, que valem cerca de R$ 2,5 milhões. O fato é que depois de várias manobras para que a votação fosse secreta, ontem 12.09, os colegas senadores absolveram o sacripanta, sacripantas que são, por 40 votos contra 35. Aquem apelar? O inusitado é que nas próximas eleições um canalha desses ainda é reeleito pela ignorância de brasileiros que se deixam roubar vergonhosamente. Brasileiros comuns que reelegendo um escroque desses se tornam, mesmo inconscientemente, coniventes com situações desse tipo. E tudo isto, meus caros, aconteceu dentro do Senado Federal, em Brasília, imaginem os senhores, o que acontece nas Câmaras Municipais de cidades em todo o Brasil, Assembléias Legislativas Estaduais, Prefeituras, Governadorias e todo tipo de instituições, que não são poucas por esse Brasil afora. Mônica Veloso (vejam só!), ainda pousou nua para a revista Playboy, angariando mais alguns trocados, somados àqueles roubados inescrupulosamente de nossos bolsos. E o senador? Livre, leve e solto vai continuar metendo a mão nos cofres do Estado, zombando das nossas caras lambidas e de nossa incompetência para eleger políticos comprometidos com as causas mais urgentes do povo brasileiro.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

JOÃO CABRAL DE MELO NETO - A POESIA DO MESTRE PERNAMBUCANO


João Cabral de Melo Neto
Recife 1920 - Rio de Janeiro 1999
Poeta pernambucano


CARTÃO DE NATAL

Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:

que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
o sim comer o não.

A LUZ SEMPITERNA DE UM CONDENADO – A LITERATURA CRIATIVA DE SALMAN RUSHDIE

Resenha por Enzo Carlo Barrocco


"Cruze Esta Linha": miscelânea anglo-indiana

Mês passado caiu-me às mãos o livro Cruze Esta Linha (Companhia das Letras, 2007, 48 páginas) do romancista, cronista e ensaísta anglo-indiano Salman Rushdie (Bombaim 1947), famosíssimo por ter sido condenado à morte pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini (Khomein 1900 - Teerã, 1989) líder religioso iraniano, por ter publicado um livro contrário às convicções religiosas mulçumanas, cujo título é “Os Versos Satânicos”. O livro Cruze Esta Linha se reporta a vários assuntos escritos entre 1992 e 2002. Rushdie aborda a literatura, o rock, a fotografia, o cinema, a política. O eixo principal deste livro, entretanto, é uma seção intitulada “Mensagens dos Anos da Peste”, cujos textos referem-se ao tempo em que o autor vivia ameaçado pelo Fatwa, que era a sentença de morte proferida pelo Aiatolá. Rushdie tenta buscar nos assuntos enfocados, novos prismas, tratando-os de maneira objetiva, colocando à margem dogmas políticos, religiosos e culturais. A ironia, por vezes, toma conta da prosa de Rushdie se misturando, em certas ocasiões com a doçura latente dos escritos. É importante dizer que a diversidade desses ensaios, conferências e artigos não entediam o leitor que busca a informação. O periódico The New York Times Book Review, escreveu: “Salman Rushdie é um escritor prodigioso capaz de extrair do ar rarefeito toda uma gama de geografias, criaturas, costumes, climas e relações”. Portanto, Cruze Esta Linha, se dá ao luxo de, ao mesmo tempo, informar e entreter. Da edição brasileira, porém, foram cortados cerca de trinta textos, incluindo escritos de “Mensagem dos Anos da Peste; ainda assim, é um livro excepcional. A tradução ficou por conta de José Rubens Siqueira.


TRECHO DO LIVRO Cruze Esta Linha

Lá em Kansas

Escrevi meu primeiro conto em Bombaim, com dez anos de idade. O título era "Over the rainbow" [Além do arco-íris]. Não passava de uma dúzia de páginas, aplicadamente datilografadas pela secretária de meu pai em papel fino, que acabaram perdidas em algum ponto dos labirínticos deslocamentos de minha família entre a Índia, a Inglaterra e o Paquistão. Pouco antes da morte de meu pai, em 1987, ele me informou ter encontrado uma cópia embolorando em um velho arquivo, mas apesar de meus pedidos nunca me mostrou. Esse incidente sempre me intrigou. Talvez ele nunca tenha encontrado de fato o conto e nesse caso teria sucumbido à tentação da fantasia, e esse foi o último dos muitos contos de fadas que me contou. Ou então ele realmente encontrou o conto e guardou-o para si como um talismã e lembrete de tempos mais simples, considerando-o um tesouro dele, não meu - seu pote de ouro nostálgico e paternal.

Não me lembro de muita coisa do conto. Era sobre um menino bombainense de dez anos de idade que um dia se vê no começo de um arco-íris, um lugar tão ilusório quanto qualquer final com pote de ouro e igualmente tão promissor. O arco-íris é largo, tão largo quanto uma calçada, e construído como uma escadaria grandiosa. Naturalmente, o menino começa a subir. Esqueci quase todas as suas aventuras, exceto um encontro com uma pianola falante cuja personalidade era um improvável híbrido de Judy Garland, Elvis Presley e os "cantores de fundo" dos filmes indianos, muitos dos quais faziam O Mágico de Oz parecer realismo de vida cotidiana.

Minha fraca memória - que minha mãe chamava de "esqueçória" - é, provavelmente, uma bênção. Enfim, me lembro do que é importante. Lembro que O Mágico de Oz (o filme, não o livro, que não li em criança) foi minha primeiríssima influência literária. Mais que isso: lembro que quando foi mencionada a possibilidade de eu ir para a escola na Inglaterra, isso me soou tão excitante quanto qualquer viagem além do arco-íris. A Inglaterra parecia uma perspectiva tão maravilhosa quanto Oz.

O mágico, porém, estava bem ali, em Bombaim. Meu pai, Anis Ahmed Rushdie, era um pai mágico para filhos jovens, mas tendia também a ter explosões, ataques de raiva trovejantes, relâmpagos de faíscas emocionais, baforadas de fumaça de dragão e outras ameaças do tipo das também praticadas por Oz, o grande e terrível, o primeiro Mago De Luxe. E quando a cortina se abriu e nós, seus filhos em crescimento, descobrimos (como Dorothy) a verdade sobre a impostura adulta, foi fácil para nós pensar, como ela, que nosso homem devia ser um homem muito mau mesmo. Levei metade da vida para entender que a grande apologia pro vita sua do Grande Oz cabia igualmente bem para meu pai; que ele também era um homem bom, mas um mago muito ruim.

Comecei por essas reminiscências pessoais porque O Mágico de Oz é um filme cuja força motriz é a inadequação dos adultos, mesmo dos adultos bons. No início do filme, a fraqueza deles força uma criança a assumir o controle do próprio destino (e do de seu cachorro). Assim, ironicamente, ela começa o processo de se tornar adulta também. A jornada de Kansas a Oz é um rito de passagem de um mundo em que os pais substitutos de Dorothy, tia Em e tio Henry, não têm a capacidade de ajudá-la a salvar seu cachorro, Totó, da saqueadora Miss Gulch para um mundo onde as pessoas são do seu tamanho e no qual ela nunca é tratada como criança, mas sempre como heroína. Ela conquista esse status por acaso, é verdade, não tendo desempenhado papel algum na determinação com que sua casa esmaga a Bruxa Má do Leste; porém, ao final da aventura ela, sem dúvida, cresceu o suficiente para calçar aqueles sapatos - aqueles famosos sapatos de rubi. "Quem haveria de dizer que uma menina como você iria destruir a minha bela perversidade?", lamenta a Bruxa Má do Oeste enquanto derrete - um adulto que se torna menor que uma criança e deixa seu lugar para ela. Enquanto a Bruxa Má do Oeste "diminui", vê-se Dorothy crescer. A meu ver, é muito mais satisfatória essa explicação do poder recém-conquistado de Dorothy sobre os sapatos de rubi do que as razões sentimentais fornecidas pela inefavelmente chocha Bruxa Boa Glinda, e depois pela própria Dorothy, naquele final enjoativo que considero pouco fiel ao espírito anárquico do filme. (Falaremos disso mais adiante.)

O desamparo de tia Em e de tio Henry diante do desejo de Miss Gulch de aniquilar o cachorro Totó leva Dorothy a pensar, infantilmente, em fugir de casa - em escapar. E é por isso, quando vem o tornado, que ela não está junto com os outros no abrigo e, conseqüentemente, é arrebatada em uma escapada que vai muito além de todos os seus mais loucos sonhos. Depois, porém, quando se vê diante da fraqueza do Mágico de Oz, ela não foge, mas põe-se em batalha - primeiro contra a Bruxa, depois contra o próprio Mágico. A ineficiência do Mágico é uma das muitas simetrias do filme, uma vez que rima com a debilidade dos parentes de Dorothy; mas a questão é a maneira diferente de Dorothy reagir.

O menino de dez anos que assistiu a O Mágico de Oz no cine Metro de Bombaim sabia muito pouco sobre terras estrangeiras e menos ainda sobre crescimento. Sabia, porém, muito mais sobre o cinema fantástico do que qualquer criança ocidental da mesma idade. No Ocidente, O Mágico de Oz era uma esquisitice, uma tentativa de fazer uma versão ao vivo de um desenho de Disney, apesar da noção corrente na indústria cinematográfica (como os tempos mudam!) de que filmes de fantasia geralmente fracassam. Não há dúvida de que a excitação gerada por Branca de Neve e os sete anões foi responsável pela decisão da MGM de dar tratamento prioritário ao livro de 39 anos antes. Não era, porém, a primeira versão cinematográfica. Nunca vi o filme mudo de 1925, mas não tem boa fama. Mesmo contando com Oliver Hardy no papel do Homem de Lata.

O Mágico de Oz nunca fez dinheiro de verdade até se tornar um sucesso da televisão muitos anos depois de seu lançamento original nos cinemas, embora se possa dizer, à guisa de consolo, que o lançamento duas semanas antes do início da Segunda Guerra Mundial não aumentou muito suas possibilidades. Na Índia, porém, encaixou-se no que era então, e continua até hoje, uma das principais correntes da produção cinematográfica de "Bollywood".

(...)



quinta-feira, 6 de setembro de 2007

FLORES OBSCENAS

Enzo Carlo Barrocco



Sinto na boca o teu suco hormonal,
o clitóris rubro,
a fenda carnal.

E mãos e coxas e ancas
que brotam suor,
lasciva faina,
flores obscenas entre lábios víscidos.

Sinto na tua boca o meu suco hormonal
a glande rubra,
a haste carnal.

ACENDAMOS UMA VELA NO ALTAR DE HILDA


Hilda Hilst
Jaú 1930 – Campinas 2004
Poeta, novelista, contista, cronista e dramaturga paulista

Árias Pequenas. Para Bandolim.

Antes que o mundo acabe, Túlio,
Deita-te e prova
Esse milagre do gosto

Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso. E ao meu lado
Te fazes árabe, me faço israelita
E nos cobrimos de beijos
E de flores

Antes que o mundo se acabe
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

JIRAU DI/VERSO nº 8

JIRAU DI/VERSO
Nº 08 – outubro.2006
por Enzo Carlo Barrocco

A POESIA PARAENSE DE ALONSO ROCHA
O POEMA
SONETO À LUA CHEIA

Lua de celofane – lua amarga,
a mensagem de amor que hoje me trazes
rasga no coração como tenazes,
essa dor que se alarga, que se alarga.

Lua de gesso estéril, em tua carga,
por não me decifrar, tu te comprazes,
em ver que eu sou, em tons tristes, lilases,
jogral de um circo azul, na noite larga.

De sofrer já cansei, mas dizes: - “Ama!”
e tua luz – espelho onde me encanto –
na ante-manhã deserta, se derrama.

Porém não creio mais no teu milagre;
- quem teve tanto amor, odeia tanto;
eu que fui vinho agora sou vinagre.

O POETA
Raimundo Alonso Pinheiro Rocha, paraense de Belém, poeta, no convés da fragata desde 1926, é apontado como um dos melhores sonetistas do Pará dos últimos 50 anos. Na trova o mesmo apuro técnico, embora tenha começado tarde nessa variante. É poeta eclético - como mesmo declara – não aprisionado a escolas e sem preconceito com qualquer forma de manifestação poética. Alonso foi eleito o IV Príncipe dos poetas do Pará e também pertence à Academia Paraense de Letras.***

ESTANTE DE ACRÍLICOLivros Sugestionáveis
“Trilha Poética” (Poesias)
Autor: Sérgio Mattos
Edição: Edições G.R.D.
A poesia de Sérgio Mattos aqui em “Trilha Poética” tem na síntese a sua principal característica. A poesia de nossos dias tocando assuntos atuais.

“O Homem Pelo Avesso” (Contos)
Autor: Alfredo Garcia
Edição: Secult
Uma coletânea com treze inventivos contos do paraense de Bragança, Alfredo Garcia. A palavra fácil, um exímio contista.

“A poesia Espírito-Santense do Século XX “ (Pesquisa Literária)
Autor: Assis Brasil
Edição: Imago Editora
Os mais importantes poetas do Espírito Santo do Século passado reunidos neste belíssimo livro com biografias, comentários e poemas organizados pelo incansável Assis Brasil.

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A FRASE DI/VERSA

Poemas são também, presentes – presentes aos atentos. Presentes que levam consigo um destino.
- Paul Celan (Czernovitz 1920 – Paris, Fr. 1970) poeta romeno

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DA LAVRA MINHA


terça-feira, 4 de setembro de 2007

O DIÁRIO DOS PENSADORES - PÁGINA 9


A vontade é uma grande feiticeira cujo principal feitiço é o de fazer
sentir a própria liberdade.
- Carl Jung (Kesswil 1875 - Küsnacht 1961) psicanalista suíço

A segurança será sempre precária onde houver o clamor dos oprimidos.
- Ulysses Guimarães (Rio Claro 1916 – Em um desastre de helicóptero no mar de Angra dos Reis 1992) político paulista

Pensar mal dos outros talvez seja um pecado. Dificilmente será um engano.
- Henry Louis Mencken (Baltimore 1880 – Idem 1965) jornalista e ensaísta americano

A verdade nunca fere uma causa justa.
- Mahatma Gandhi (Porbandar 1869 – Nova Delhi 1948) líder pacifista e político indiano

Sempre foi assim: o amor só conhece a sua profundidade no momento da partida.
- Kahlil Gibran (Bsharri 1883 – Nova York 1931) poeta libanês

Onde três linhas são suficientes, não coloco mais nenhuma.
- André Gide (Paris 1869 – Idem 1951) romancista e ensaísta francês

As pessoas felizes não acreditam em milagres.
- Goethe (Frankfurt 1749 – Weimar 1832) poeta, dramaturgo, ensaísta e romancista alemão

Eu me sirvo dos animais para instruir os homens.
- Jean de La Fontaine (Château-Thierry 1621 – Paris 1695) fabulista francês

O futuro das crianças é hoje. Amanhã será tarde demais.
- Gabriela Mistral (Vicuña 1889 - Hempstead , EUA 1957) poeta chilena

A mais linda ilusão dura um segundo
E dura a vida inteira uma saudade.
- Guilherme de Almeida (Campinas 1890 – Idem 1969) poeta, ensaísta e jornalista paulista

Nem tudo que reluz é ouro.
- Miguel de Cervantes (Alcalá de Henares 1547 – Madrid 1616) poeta, novelista, romancista e dramaturgo espanhol

O homem que se vende acaba recebendo mais do que vale.
- Mariano José Pereira da Fonseca, o Marquês de Maricá (Rio de Janeiro 1773 – Idem 1848) filósofo e matemático fluminense

A POESIA MULTIFACETADA DE RONALDO WERNECK


Ronaldo Werneck
Cataguases 1943
Poeta e jornalista mineiro


diretrizes


nem dor nem sorriso

incrível narciso

não o amor macio

mas o branco cio

anão o diazul norte

mas noite-sul morte

não o rio aço-brilho

mas o vazio: trilho

sem dor nem sorriso

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

UM TIRO À QUEIMA-ROUPA – MAIS UM BRASILEIRO CLANDESTINO NOS ESTADOS UNIDOS

por Enzo Carlo Barrocco

“Bala na Agulha”: dólares e trabuco

Embora a primeira publicação tenha saído em 2003, “Bala na Agulha” (Objetiva, 2007, 168 páginas) vem a contento agora neste ano. Marcelo Rubens Paiva, paulista da capital, romancista, cronista e jornalista, no convés da fragata desde 1959, nos apresenta a história cheia de aventura de um jovem brasileiro que vive ilegalmente nos Estados Unidos vendendo cocaína antes de ter trabalhado como garoto de programa. Flagrado pela polícia, vê todas as suas economias sumirem. Um dos seus contatos na embaixada brasileira em Nova York promete a ele um passaporte para fugir, sem que a promessa seja cumprida. O protagonista se vê enredado por várias situações que o coloca em perigos diversos, como estupro, assassinato, prostituição, etc. O gênero policial requer um especial cuidado por parte do autor para que a narrativa não caia nas armadilhas do clichê, entretanto, Marcelo não dá muita importância a esse fato. Por outro lado, as cenas são narradas apressadamente. Um pouco menos de pressa faria muito bem a esse romance que também não pretende ser um best-seller. Mas se você é fã do gênero policial experimente “Bala na Agulha”. Marcelo Rubens Paiva, aliás, já ganhou o Prêmio Jabuti, em 1983; Moinho Santista, em 1985 e Shell de Teatro, em 2000. Estudou na Escola de Comunicações e Artes da USP, freqüentou o mestrado de Teoria Literária da Unicamp e o King Fellow Program da Universidade de Stanford, na Califórnia. Publicou cinco romances: Feliz ano velho (1982, Prêmio Jabuti), Blecaute (1986), Uabrari (1990), Bala na agulha (1992) e Não és tu, Brasil (1996). Publicou também o livro de crônicas As Fêmeas (1994). Foi traduzido para o inglês, espanhol, francês, italiano, alemão e tcheco. Como dramaturgo, escreveu: 525 linhas (1989); O predador entra na sala (1997); Da boca pra fora – e aí, comeu? (1999, Prêmio Shell); Mais-que-imperfeito (2000); Closet Show (2001); e No retrovisor (2002). Além de todos esses trabalhos publicados, Marcelo se destacou, também, como crítico literário da Revista Veja, apresentador do programa Fanzine da TV Cultura, ainda, colunista e articulista do jornal Folha de São Paulo e da Revista Vogue RG.

TRECHO DO LIVRO “BALA NA AGULHA”

(...)

Aeroporto. Kennedy ou La Guardia? Do primeiro saem mais vôos internacionais. O segundo é mais caótico. Entrei num táxi e pedi o La Guardia.
Quer
mesmo saber?

Foi a primeira vez que atirei em alguém e, naquela circunstância, faria de novo. O tiro foi para me dar tempo. A cena deixaria o motorista em pânico. A primeira coisa que faria seria correr para um hospital.

Agora eu digo: antes ele do que eu.

Se o escocês morresse, melhor para mim que ganharia, então, uma nova identidade e poderia usufruir dela por um bom tempo. Se vivesse, sorte dele. Mas até conseguir dizer quem era, eu já estaria longe, depois de ter usado seu nome: Paul Surrender - solteiro, 27 anos, visto de permanência para um mês.

A maioria dos vôos que chegam num país fica em terra algumas horas, o suficiente para reabastecer, trocar a tripulação, etc. Sua passagem era de ida e volta. O avião que trouxera Paul Surrender seria o mesmo que me levaria embora. Londres. Fim de linha. Não teria problemas em viver por lá, até me organizar melhor e partir pra outra. Em dinheiro consegui mais de mil libras e quase dois mil dólares, incluindo os do motorista de táxi. O bloco de travellers foi picotado e jogado pela janela. Li com atenção os dados do passaporte procurando memorizá-los. Eu estava pronto.

(...)

ALVARENGA PEIXOTO: O POETA INCONFIDENTE

Inácio José Alvarenga Peixoto, poeta fluminense (Rio de Janeiro 1744 – Ambaca, Angola 1793), estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janei...