O homem abriu a porta, como sempre fazia e percebeu, então, embaixo da escada que dava para o outro andar do vasto sobrado, alguém agachado, imóvel, encolhido. Pensou primeiramente que sua mulher estivesse fazendo algum tipo de gracinha. Aproximou-se e percebeu uma poça de sangue. Estremeceu. Correu à cozinha e a porta estava entreaberta. Os filhos!!! Ouviu gritos vindos do banheiro dos fundos. As duas empregadas e os dois filhos estavam trancados lá. Rumaram à sala. Ante ao acontecido o homem não sabia o que fazer...
Adelaide Victória Ferreira Paulista de Sete Barras 80 anos
Apresentação
Era uma vez... Trajando uma batina preta,
arcado o torso magro, em curva atestatória
da prece... um jesuíta, um padre... era Anchieta;
surgiu logo no albor da brasileira história.
Viveu fugindo, sempre, aos toques de trombeta
que, em sua milagrosa e humana trajetória,
devia receber dos homens. A faceta
mais radiante nele era furtar-se à glória.
Foi piedoso e santo e foi, também o filho
de Deus, cuja mansão, edênica, inefável,
aos índios descerrou. Quem da Virgem, o brilho
em versos exaltou... Mas, servo da humildade, insistia em fazer calar, irrecusável, os testemunhos mil de sua santidade...
Que já fumei, que já fumei... Canabis aflora a pele, consciência lívida, eu sei lá!.. Duas luas num céu de viés.
SOLO
Quem gosta de andar em bando é macaco, eu, particularmente, não! Sou um pássaro solipso, ave noturna que arrisca, meticulosamente, um vôo.
DEPOIS NÃO DIZ QUE NÃO TE AVISEI
Devias ler meu poema? Não, não devias! Árvore morta à margem da estrada, lua diurna sobre a tarde pálida. Meu poema é uma lâmpada queimada, lago formado nas depressões das britas.
Quando subi para o ônibus na Rua Vinho Novo ainda tinha um lugar vago nas cadeiras de trás. Passei a roleta e sentei ao lado de um distinto senhor de paletó e gravata, bem apessoado, cabelo certinho e uma pasta tipo presidente colocada no chão do ônibus. Naquele dia eu só tinha o dinheiro da passagem de ida; iria emprestar de algum colega para voltar a casa. Na Avenida Souza Paiva, o distinto senhor pediu licença para passar, pois, naturalmente, iria descer. Virei de lado, o homem passou e puxou a campainha. Quando o ônibus parou percebi que o engravatado tinha esquecido a pasta. Chamei-o imediatamente; ele pôs a mão na cabeça e entreguei-lhe a pasta e ele convidou-me a descer. Será que ele quer me recompensar? Foi o que me veio à cabeça. Desci, claro, com certa alegria, pois qualquer quantia, àquela altura, seria muito bem-vinda. O homem pegou minha mão e agradeceu-me várias vezes, penhoradamente, dizendo que ali tinha documentos importantes, etc.etc. E eu esperando a recompensa. De repente, o homem dá sinal para um táxi que parou e, agradecendo-me, pela última vez, o biltre entrou no carro e foi embora. Fiquei ali, a uns três quilômetros do meu trabalho, sem dinheiro, sol alto, calor insuportável, atrasado e atônito.
Seremos de tal lirismo
que por descuido somente
voltaremos ao instinto
de comer os grãos de pólen.
Tão luminosos seremos,
de tal pureza divina,
que em nós haverá tormento
se o néctar for ingerido
e mancharemos o amor
se houver escolha de sumo
e pesaremos o dobro
com o perfume dos frutos.
Renan vociferando: não esqueçamos seu passado negro.
Enquanto isso, no Senado Federal, continuam os desmandos. Uma instituição onde se decidem os rumos de todo um país, a corrupção e a falta de ética correm soltas. O presidente da “Casa”, José Sarney, metido em todos os tipos de falcatruas; alguns aliados dele querendo defender o indefensável... Com todo o respeito aos feirantes de todo Brasil, um bate-boca de final de feira semana passada entre Renan Calheiros e Tasso Jereissaiti foi um episódio que jamais poderia ter acontecido. É como se diz: um sujo falando de um mal-lavado. Se o Senado está nesse patamar o que não dizer de todas as outras instituições públicas espalhadas pelo Brasil? Sinceramente falando: este é um país de ordinários.