quarta-feira, 14 de outubro de 2009

QUANDO ALBERTO DE OLIVEIRA CHEGOU AO INFERNO


Conto


Enzo Carlo Barrocco

Quando Alberto de Oliveira, nos idos de 1937, deixou este mundo, não conseguiu retirar os bilhetes para entrar no céu, devido a uns problemas de ordem técnica. Portanto fora mandado diretamente para o inferno. Não perguntou nada, mas se intrigou com o fato de não ter sido mandado primeiramente ao purgatório. Acompanhado de um anjo escalado para a tarefa, à porta do lugar sinistro, o Diabo, em pessoa, estava lá resolvendo sebe-se lá o quê. Do jeito que estava (muito diferente, aliás, da figura medonha que as pessoas na terra faziam dele) o temível “senhor das trevas” nem seria percebido se estivesse andando pelas ruas de uma cidade grande, a não ser pela roupa extravagante: calça de brim riscado, camisa de viscose lilás com mangas curtas, alpercatas de couro cru. Os aspectos da vida terrena atraem sumamente as atenções do “demo”.
Assim que o capiroto avistou o poeta, se espantou:
- Alberto de Oliveira! – O poeta aqui no inferno! – completou o “feio”.
- Não, não! Esse daí não pode ficar aqui de jeito nenhum! Ele vai acabar atapetando de flores todo o chão do inferno. Isso, não! Claro que este lugar – afirmou – está cheio de poetas, mas apenas, os particularmente ruins.
Alberto não teve coragem de interpelar o Diabo, embora o tenha achado muito cortês.
O anjo, um pouco afastado, esperou que Alberto o acompanhasse. O que o poeta queria era voltar para Niterói ou mesmo Palmital, mas confessa a curiosidade que tinha a respeito daquele lugar.
Não tinha idéia aonde aquele anjo o levaria depois de ter sido rejeitado no inferno, mas incrivelmente não estava preocupado. Por entre a forte neblina, ambos desapareceram...

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