O POETA
Afonso Cláudio de Freitas Rosa, poeta, historiador, folclorista, ensaísta e político espírito-santense (Mangaraí, Distrito de Cachoeiro de Santa Leopoldina 1859 – Rio de Janeiro 1934), segundo alguns, foi o maior intelectual capixaba do final do século 19. Republicano e antiescravocrata, o poeta lutou muito contra a monarquia e a escravidão em nosso país. Com a Proclamação da República Afonso Cláudio se tornou o primeiro governador do estado do Espírito Santo.
O colóquio das águas (O rio e o mal)
II
— Quão venturoso és tu, ó velho sonhador!
Que nas areias límpidas, silentes,
Os flancos moves e aos largos continentes
Pródigo distribuis a quentura e o frescor!
— Engano teu, vilão! Em toda a parte a dor —
Diz o mar — transborda como tu em túrgidas enchentes;
Se o visco da lesma conspurca e tisna a flor,
Que outra sorte reservas ao resto dos viventes?
Por sobre o dorso meu repontam as quilhas;
Em revoadas se abatem sobre as ilhas
Aves que sulcam do espaço as amplidões.
E enquanto sobre mim deriva a vasa impura
Das cidades, os crustáceos revolvem a lama escura,
Que a terra expele e em ígneas convulsões!
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