Enganaram-se
Maria da Fonte

Se um dia vires por aí
A pilula que cure o medo, não hesites.
Temo que ele me mate brevemente. Metastizou-se
À velocidade da luz.
Há dias em que mal seguro a dor. O medo atravessa-me a medula,
Emerge à superfície em ferida;
A lava escorre e as cinzas roçam a morte.
Já levo comigo um sem-número de dentes cravados nos ossos,
Receio que não chegues a tempo de sensibilizar as larvas.
Perguntam-me os médicos o que como, o que corro, o que durmo.
Eu deixo cair um fio de voz assustada:
Tenho medo.
Depois entopem-me outra vez de remédios.
Este é para o dia; esse, para a noite; aquele, para a dor…
Regresso a casa com o cadáver, debaixo do braço, aos saltos.
Sento-me de frente para mim,
Tiro a bula da caixa e procuro nos diferentes compostos
A percentagem de inocência. Nada!
Químicos! Químicos! Químicos!
Fecho a caixa, inconsolável.
Enganaram-se!
http://mais1poema.blogspot.com.br/
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