segunda-feira, 11 de maio de 2015

A CARGA INUSITADA

Conto
por Enzo Carlo Barrocco























Salvador era o motorista da ambulância de uma das cidades da Zona do Salgado e, certa época, diariamente trazia o pessoal enfermo para Belém. Não falhava um dia sequer. Quando passava pela barreira da Polícia Federal de Ananindeua ligava a sirene para comprovar que realmente trazia gente doente para os hospitais da capital. Um certo dia àquela passagem diária, pontualmente à 07 horas da manhã, intrigou Leôncio, um dos guardas federais que tirava serviço na barreira. A princípio não levou a sério aquelas conjecturas, no entanto ficou remoendo aqueles pensamentos. Então, mais ou menos às 07 horas da manhã a tal ambulância dirigida pelo mesmo motorista passava pelo posto da Polícia Federal com a sirene ligada rumo a algum hospital de Belém. Será que todo dia adoecia um cristão naquela pequena cidade do litoral? -pensava Leôncio. Encafifado com aquela passagem diária, o guarda pensou em uma estratégia a fim de parar a ambulância para ratificar se o carro transportava doentes.

            Era uma sexta-feira e, às sete da manhã, na cabeça da ladeira aparece a ambulância com a sirene ligada. Leôncio e o colega Bezerra foram para o meio da pista interditar o veículo. Fizeram sinal para o cara estacionar e esse se encostou ao meio-fio. Leôncio se aproximou argumentando que por telefone avisaram que haviam roubado uma ambulância numa cidade próxima, O motorista visivelmente perturbado com a situação, imediatamente puxou os documentos do porta-luvas. O outro guarda se aproximando deu ordem para o condutor sair do carro. “Mas, senhor”- disse o assustado motorista – “estou com gente doente aí atrás!” O guarda tanto insistiu que  o homem desceu. Na averiguação – pasmem – onde deveria estar o enfermo, haviam caixas e mais caixas de peixes, certamente para serem negociados em Belém.  A ambulância e as caixas de peixes, evidentemente, foram apreendidas; o motorista, por seu turno, bateu com o costado na sede da Polícia Federal na Almirante Barroso.

            Quem gostou foi D. Isaíldes, tia do guarda Leôncio, que perguntou ao sobrinho um dia desses: “Quando é que a pescaria vai dar boa de novo? ‘Tô’ precisada!”.


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