por Enzo Carlo Barrocco
Salvador
era o motorista da ambulância de uma das cidades da Zona do Salgado e, certa
época, diariamente trazia o pessoal enfermo para Belém. Não falhava um dia
sequer. Quando passava pela barreira da Polícia Federal de Ananindeua ligava a
sirene para comprovar que realmente trazia gente doente para os hospitais da
capital. Um certo dia àquela passagem diária, pontualmente à 07 horas da manhã,
intrigou Leôncio, um dos guardas federais que tirava serviço na barreira. A
princípio não levou a sério aquelas conjecturas, no entanto ficou remoendo
aqueles pensamentos. Então, mais ou menos às 07 horas da manhã a tal ambulância
dirigida pelo mesmo motorista passava pelo posto da Polícia Federal com a
sirene ligada rumo a algum hospital de Belém. Será que todo dia adoecia um
cristão naquela pequena cidade do litoral? -pensava Leôncio. Encafifado com
aquela passagem diária, o guarda pensou em uma estratégia a fim de parar a
ambulância para ratificar se o carro transportava doentes.
Era uma sexta-feira e, às sete da manhã, na cabeça da
ladeira aparece a ambulância com a sirene ligada. Leôncio e o colega Bezerra
foram para o meio da pista interditar o veículo. Fizeram sinal para o cara
estacionar e esse se encostou ao meio-fio. Leôncio se aproximou argumentando
que por telefone avisaram que haviam roubado uma ambulância numa cidade
próxima, O motorista visivelmente perturbado com a situação, imediatamente
puxou os documentos do porta-luvas. O outro guarda se aproximando deu ordem
para o condutor sair do carro. “Mas, senhor”- disse o assustado motorista –
“estou com gente doente aí atrás!” O guarda tanto insistiu que o homem desceu. Na averiguação – pasmem –
onde deveria estar o enfermo, haviam caixas e mais caixas de peixes, certamente
para serem negociados em Belém. A
ambulância e as caixas de peixes, evidentemente, foram apreendidas; o
motorista, por seu turno, bateu com o costado na sede da Polícia Federal na
Almirante Barroso.
Quem gostou foi D. Isaíldes, tia do guarda Leôncio, que
perguntou ao sobrinho um dia desses: “Quando é que a pescaria vai dar boa de
novo? ‘Tô’ precisada!”.
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