terça-feira, 31 de julho de 2007

JIRAU DI/VERSO Nº 5


Nº 05 – Julho.2006
por Enzo Carlo Barrocco
A poesia senegalesa de Léopold Sédar Senghor
O POEMA

VISITA

Na escassa penumbra da tarde,
sonho.
Vêm me visitar as fadigas do dia,
os defuntos do ano, as lembranças da década,
como uma procissão dos mortos daquela aldeia
perdida lá no horizonte.
Este é o mesmo sol, impregnado de miragens
o mesmo céu que presenças ocultas dissimulam
o mesmo céu temido daqueles que tratam
com os que se foram.
Eis que a mim vêm os meus 
* Tradução de Guilherme de Souza Castro
O POETA

Léopold Sédar Senghor (Joal-Fadiouth 1906 – Verson, França 2001 ) poeta, ensaísta e político senegalês. Embora tenha sido essencialmente poeta, Senghor também enveredou pelos caminhos do ensaio. Na França, para onde havia se mudado, foi feito prisioneiro pelos nazistas, à época da II Guerra Mundial. Em 1945, foi eleito deputado pelo Senegal, assim como, depois, seu primeiro presidente. A Academia Francesa de Letras o elegeu para as suas lides em 1983, sendo, portanto o primeiro africano a ocupar uma cadeira naquela Casa.

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Estante de Acrílico
Livros Sugestionáveis

“O Defunto e Outros Contos”
Autor: Eça de Queiroz
Edição: Editora Tecnoprint S.A.
Belíssimo livro. Eça e sua impressionante capacidade de contar histórias. “Singularidades de Uma Rapariga Loura”, “Frei Genebro” e “Suave Milagre” são preciosidades da literatura mundial.

“Vampiros Extraterrestres na Amazônia” (Ensaio)
Autor: Daniel Rebisso Giese
Edição do Autor
As supostas aparições de discos voadores na região Amazônica, principalmente na região nordeste do Pará, com relatos e fotos. Rebisso, ufólogo que é, trata o assunto com muita seriedade.

“E Todas as orquestras Acenderam a Lua” (Poesias)
Autora: Lília Silvestre Chaves
Edição: Imprensa Oficial do Estado do Pará
O sentimento feminino se encaixa perfeitamente em “Todas as...”, no que diz respeito ao romantismo. A alma feminina falando, gesticulando, amando...
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A FRASE DI/VERSA
“Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”.
- Cora Coralina (Goiás Velho 1889 – Goiânia 1985) poeta e contista goiana

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DA LAVRA MINHA





CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: A MAIS ALTA VOZ DA POESIA BRASILEIRA


Carlos Drummond de Andrade
Itabira 1902 - Rio de Janeiro 1987
Poeta, contista e cronista mineiro

Poema da purificação

Depois de tantos combates
o anjo bom matou o anjo mau
e jogou seu corpo no rio.

As água ficaram tintas
de um sangue que não descorava
e os peixes todos morreram.

Mas uma luz que ninguém soube
dizer de onde tinha vindo
apareceu para clarear o mundo,
e outro anjo pensou a ferida
do anjo batalhador.

O DIÁRIO DOS PENSADORES - PÁGINA 6


A guerra, que era antes o primeiro dos recursos, é hoje o último deles
e amanhã será um crime.
- José Marti (Havana 1853 – Dos Rios 1895) poeta, ensaísta e jornalista
cubano

Podemos curar qualquer mal com dois remédios: o tempo e o silêncio.
- Alexandre Dumas, Pai (Villers-Cotterêts 1802 - Puys, próximo de Dieppe 1870) romancista e dramaturgo francês

Toda arte é uma revolta contra o destino do homem.
- André Malraux (Paris 1901 - Verrières-le-Buisson 1976) romancista e ensaísta francês

Ao lidar com insanos o melhor método é fingir ser são.
- Herman Hesse (Calw 1877 – Montagnola, Suíça 1962) poeta e romancista alemão

As noivas modernas preferem conservar os buquês e jogar seus maridos fora.
- Groucho Marx (Nova York 1890 – Los Angeles 1977) ator comediante americano

Amor é algo que acontece entre homens e mulheres que não se conhecem.
- William Somerset Maugham (Paris 1874 – Nice 1965) contista, dramaturgo, romancista e ensaísta inglês nascido na França

Só não existe o que não pode ser imaginado.
- Murilo Mendes (Juiz de Fora 1901 – Lisboa 1975) poeta e ensaísta mineiro.

A mulher é o mais belo defeito da natureza.
- John Milton (Londres 1608 – Idem 1674) poeta inglês

A revolução não é sublevação contra a ordem preexistente, mas a implantação de uma nova ordem que vira a tradicional do avesso.
- José Ortega y Gasset (Madri 1883 – Idem 1955) filósofo e humanista espanhol

A vida é um espetáculo maravilhoso, mas nossos lugares não são bons e não entendemos o que estamos assistindo.
- George Clemenceau (Mouilleron-en-Pareds 1841 – Paris 1929) político, ensaísta e jornalista francês

Conserva-te calmo. Tudo acabará dentro de mais cem anos.
- Ralph Waldo Emerson (Boston 1803 – Concord 1882) poeta, filósofo e ensaísta americano

Convém, em certas ocasiões, ocultar o que se traz no coração.
- Jean-Baptiste Poquelin, o Molière (Paris 1622 – Idem 1673) dramaturgo e ator francês

quarta-feira, 25 de julho de 2007

UM PÁSSARO E UMA MANHÃ

A ENGENHOSA PALAVRA DE JOAQUIM CARDOZO


Joaquim Cardozo
Recife 1897 - Olinda 1978
Poeta, dramaturgo e engenheiro pernambucano
AQUARELA
Macaíbeiras chovendo
Cheiro de flor amarela;
Cheiro de chão que amanhece.
Estavas sob a latada
Quando te abri a janela.
Cheiro de jasmim laranja
Pelos jardins anoitece;
Junto a papoulas dobradas,
Num canteiro florescendo,
A tua saia singela.
Macaíbeiras chovendo
Cheiro de flor amarela...
Não sei se és tu, se eras outra,
Não sei se és esta ou aquela,
A que não quis nem me quer,
Fugindo sob a latada
Nessa tarde de aquarela.
Macaíbeiras chovendo
Cheiro de flor amarela...

LUAS DE AJURUTEUA - Canto nº 1






terça-feira, 17 de julho de 2007

RIOS ENVENENADOS- 1º Canto





































MENOTTI DEL PICCHIA: A POESIA DE UM MODERNISTA


Menotti Del Picchia
São Paulo 1892 - Idem 1988
Poeta, romancista, cronista, ensaísta, pintor e jornalista paulista
NOITE
As casas fecham as pálpebras das janelas e dormem.
Todos os rumores são postos em surdina,
todas as luzes se apagam.
Há um grande aparato de câmara funerária
na paisagem do mundo.

Os homens ficam rígidos,
tomam a posição horizontal
e ensaiam o próprio cadáver.

Cada leito é a maquete de um túmulo.
Cada sono em ensaio de morte.

No cemitério da treva
tudo morre provisoriamente.

ESTRELA E PIRILAMPO

sexta-feira, 13 de julho de 2007

RESISTINDO A TODAS AS OPRESSÕES - DE REPENTE UMA FÁBULA ISRAELENSE


Capa do livro: De Repente nas Profundezas do Bosque

Resenha
por Enzo Carlo Barrocco

De Repente nas Profundezas do Bosque (Companhia das Letras, 2007, 148 páginas) é o novo livro do poeta, romancista e ensaísta israelense Amos Oz (Jerusalém 1939), um inconformado cidadão preocupado com os rumos tomados pela política de seu país. Neste mais novo trabalho, Amos Oz dá algumas alfinetadas no atual regime governamental de Israel criando uma história que diz bem o seu sentimento de inconformismo com as questões sociais. O livro se reporta à opressão, discriminação, violência, mostrando, entretanto, caminhos que levam à resistência a todos esses problemas. A história fala de um lugar paradisíaco onde não existe nenhum animal. Nas escolas é ensinado que todos os animais foram para o bosque, local terminantemente proibido e que, acredita-se, vive um misterioso demônio. O garoto Mati e sua amiga Maia, desconfiados com os donos do poder, resolvem entrar na floresta mesmo correndo todos os riscos. O questionamento é a principal função deste romance. Amos é um escritor que luta pela paz e em 2005 ele recebeu o prestigiado prêmio Goethe pelo seu irrepreensível sentido de responsabilidade moral do conjunto de sua belíssima obra. Politicamente Amos é ligado à esquerda israelense e participa ativamente do movimento “Israeli Peace Now” desde a sua fundação, em 1977. Diante de todas essas características Amos se vale do prestígio que detém em muitos países do mundo para denunciar, através de excelentes fábulas como esta. “De Repente nas Profundezas do Bosque” então é isso: uma fábula para mostrar a todos nós os bons caminhos que devamos seguir.

TRECHO DO LIVRO “DE REPENTE NAS PROFUNDEZAS DO BOSQUE”

CAPÍTULO I

A professora Emanuela explicou à classe como é um urso, como os peixes respiram e que sons a hiena produz à noite. Ela também pendurou na sala gravuras de animais e aves. Quase todos os alunos debocharam dela, porque nunca na vida tinham visto um animal sequer. E muitos deles não acreditaram que existissem no mundo tais criaturas. Pelo menos nas redondezas. Sem contar, disseram, sem contar que a professora não tinha conseguido encontrar na aldeia alguém que topasse ser seu marido, e por isso, disseram, a cabeça dela estava cheia de raposas, pardais, todo o tipo de invencionice que as pessoas sozinhas criam devido à solidão.

Só o pequeno Nimi, de tanto ouvir o falatório da professora Emanuela, começou a ter sonhos com animais à noite. A turma ria dele quando chegava contando, logo pela manhã, como seus sapatos marrons, que durante a noite ficam ao lado da cama dele se transformavam em dois ouriços que se arrastavam e examinavam o quarto a noite inteira, mas de manhã, quando ele abria os olhos, os ouriços voltavam de repente a ser um simples par de sapatos ao lado da cama. Numa outra vez, morcegos negros vieram à meia-noite, levaram-no sobre as asas e voaram com ele através das paredes da casa pelo céu da aldeia e por sobre os montes e os bosques, até que o conduziram a um palácio encantado.

Nimi era um menino um pouco descuidado, e andava quase sempre com o nariz escorrendo. Além disso, entre os salientes dentes da frente havia um belo intervalo. As crianças chamavam esse espaço de poço de lixo.

Todas as manhãs Nimi chegava à sala e começava a contar a todos um novo sonho, e todas as manhãs diziam-lhe chega, já ficou chato, fecha o teu poço de lixo. E quando ele não parava, atormentavam-no. Mas Nimi, em vez de ficar ofendido, também participava do deboche. Fungava e engolia o catarro, e começava de repente a chamar a si mesmo, numa alegria transbordante, exatamente pelos apelidos pejorativos que as crianças lhe deram: Poço de Lixo, Sonhador, Sapato-Ouriço.

Maia, a filha de Lília, a padeira, que sentava atrás dele na sala, cochichava algumas vezes: Nimi. Escuta. Você pode sonhar com o que quiser, com animais, com meninas, mas fique quieto. Não conte. Não vale a pena.

Mati dizia a Maia, você não entende, Nimi sonha só para contar os sonhos. E geralmente os sonhos dele não se interrompem nem quando ele acorda pela manhã.

Tudo divertia Nimi e tudo despertava nele alegria: a xícara rachada da cozinha e a lua cheia no céu, o colar da professora Emanuela e seus próprios dentes salientes, os botões que esqueceu de abotoar e o rugido dos ventos no bosque, tudo o que existe e acontece parecia engraçado a Nimi. Em todas as coisas via um motivo suficiente para se arrebentar de rir.

Até que uma vez ele fugiu da sala de aula e da aldeia, e entrou sozinho no bosque. Durante dois ou três dias, procuraram-no quase todos os aldeões. Por mais uma semana ou dez dias, procuraram-no os guardas. Depois, apenas seus pais e a irmã continuaram a procurar por ele.

Passadas três semanas ele voltou, magro e imundo, todo arranhado e machucado, mas relinchando de tanto entusiasmo e alegria. E desde então o pequeno Nimi não parou mais de relinchar e tampouco tornou a falar: não pronunciou nenhuma palavra desde que voltou do bosque, e só ficava circulando descalço e esfarrapado pelas ruelas da aldeia, o nariz escorrendo, mostrando os dentes e o intervalo entre eles, se metendo entre os pátios de trás, subindo nas árvores e postes, relinchando o tempo todo, com o olho direito lacrimejando sem parar por causa da sua alergia.

Era totalmente impossível voltar a freqüentar a escola por causa da "doença do relincho". As crianças, quando saíam da aula, provocavam-no intencionalmente, para que ele relinchasse. Eles o chamavam de Nimi, o potro. O médico esperava que isso fosse passar com o tempo: talvez ali, no bosque, ele tivesse se deparado com alguma coisa que o assustou ou abalou, e por enquanto está com a doença do relincho.

Maia dizia a Mati: será que eu e você deveríamos fazer alguma coisa? Como podemos ajudá-lo? E Mati respondia: deixa pra lá, Maia. Daqui a pouco eles vão se cansar disso. Daqui a pouco eles vão esquecê-lo.

Quando as crianças lhe davam um chega-pra-lá com zombarias, e atiravam pinhas e cascas sobre ele, o pequeno Nimi corria, relinchando. Subia bem alto nos galhos da árvore mais próxima e de lá, em meio às ramagens, se voltava para eles relinchando, com um olho lacrimejando e os dentes da frente salientes. E às vezes, até no meio da noite alta, parecia que se ouvia ao longe o eco de seu relincho no escuro.



AS VIOLETAS SENSUAIS DE FLORBELA ESPANCA


Florbela Espanca
Vila Viçosa 1894 – Matosinhos 1930
Poeta e contista portuguesa

Crisântemos

Sombrios mensageiros das violetas,
De longas e revoltas cabeleiras;
Brancos, sois o casto olhar das virgens
Pálidas que ao luar, sonham nas eiras.

Vermelhos, gargalhadas triunfantes,
Lábios quentes de sonhos e desejos,
Carícias sensuais d´amor e gozo;
Crisântemos de sangue, vós sois beijos!

Os amarelos riem amarguras,
Os roxos dizem prantos e torturas,
Há-os também cor de fogo, sensuais…

Eu amo os crisântemos misteriosos
Por serem lindos, tristes e mimosos,
Por ser a flor de que tu gostas mais!

quinta-feira, 12 de julho de 2007

UM GAVIÃO ME AGUARDA DE MANHÃ


Lago Água Preta: o Complexo do Utinga clama por proteção

Crônica
por Enzo Carlo Barrocco

Quase todas as manhãs quando vou pegar o ônibus para ir ao trabalho, no final das linhas Águas Lindas, bairro do mesmo nome, onde moro, um gavião, pássaro raro por aqueles lados, está comodamente pousado no alto de uma grande árvore à margem da estrada. Existe de um dos lados da rua uma reserva florestal que é mantida pela SECTAM - Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, com o apoio do BPA - Batalhão de Policiamento Ambiental do Exército, cercada por um muro, até certo ponto, e por uma cerca aramada deste ponto em diante. Dentro dessa reserva existem três lagos de porte médio, que são: o Bolonha, o Água Preta e o Utinga e, por isso mesmo, toda essa área é denominada Complexo do Utinga. É um lugar lindíssimo e, certamente, existem várias espécies de animais que fazem do parque o seu habitat. Eu próprio já vi bandos de macacos, papagaios, garças, alguns tipos de cobras, beija-flores, várias espécies de insetos. Esse parque fica próximo de minha casa localizada em um conjunto habitacional. Da minha porta dá para vislumbrar a mata exuberante e protegida, evidentemente, pelo pessoal do Exército. Aliás, é das águas desses lagos que a Companhia de Saneamento do Pará abastece a cidade de Belém. Dentro do parque, por sinal, existe uma estação de tratamento. Lembro que quando servi o Exército nos idos de 1979, íamos fazer treinamento dentro do Parque que naqueles tempos era menos danificado Existiam, como até hoje existem, algumas trilhas e belos igarapés dentro da reserva o que dá uma maior importância a esse belo lugar. Recentemente o Governo do Estado indenizou todas as famílias que residiam dentro da área para que o manancial seja preservado livrando-o da poluição que, evidentemente, as pessoas provocam.
Portanto é um privilégio residir ao lado de uma reserva florestal de importância tão grande como o Complexo do Utinga. Roguemos para que as autoridades competentes não deixem que inescrupulosos destruam essa pequena mostra da floresta amazônica que é uma das poucas áreas verdes que existem nos arredores de Belém. Seria um crime hediondo deixá-la à sorte de todo tipo de depredação como acontecem em outras áreas que deveriam, também, ser preservadas. Quanta vida existe ali! Em vista disso, meus amigos, juntemos-nos aos que realmente querem preservar o que ainda resta para que,
mais adiante, não nos arrependamos de atitudes que não tomamos.
Ah! Hoje mesmo aquele gavião ainda me esperava!

Em: 12.07.2007

terça-feira, 10 de julho de 2007

JIRAU DI/VERSO N° 4

JIRAU DI/VERSO
Nº 04 – Junho.2006
por Enzo Carlo Barrocco

A poesia mineira de Adélia Prado

O POEMA

Poema Começado no Fim

Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.
Este excesso de realidade me confunde.
Jonathan falando:
parece que estou num filme.
Se eu lhe dissesse você é estúpido
ele diria sou mesmo.
Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear
eu iria.
As casas baixas, as pessoas pobres,
e o sol da tarde,
imaginai o que era o sol da tarde
sobre a nossa fragilidade.
Vinha com Jonathan
pela rua mais torta da cidade.
O Caminho do Céu.
A POETA

Adélia Luzia Prado Freitas, mineira de Divinópolis, poeta, contista e romancista, no convés da fragata desde 1935, publicou, no início da década de 1970, seus primeiros versos em jornais e periódicos da época. Seu primeiro livro, “Bagagem”, publicado em 1976, é excepcionalmente bem recebido pela crítica. A linguagem despojada e direta dos seus textos faz de Adélia uma escritora diferenciada dentro do cenário de nossa literatura.
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Estante de Acrílico
Livros Sugestionáveis

“Repertório Selvagem” (Poesias)
Autora: Olga Savary
Edição: Multimais Editorial / Fundação Biblioteca Nacional
São doze livros reunidos em “Repertório Selvagem”, sendo dois inéditos, publicados entre os anos de 1947 e 1998. Savary é fugaz e estonteante.

“O Louco” (Poesias)
Autor: Gibran Khalil Gibran
Edição: Acigi
A poesia suave de Gibran cativa pela simplicidade . Pequenas histórias, o que torna a leitura bastante agradável.

“O Despertar do Amor” (Memórias)
Autor: Eno Teodoro Wanke
Edição: Plaquette
As aventuras e descobertas do autor quando estudante na década de 1940, em Ponta Grossa – PR. Este livro pertence à série “Os Tempos do Nunca Mais”. Wanke, no entanto, é essencialmente poeta.
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A FRASE DI/VERSA

”No fim tudo dará certo. Se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim”.
- Fernando Sabino (Belo Horizonte 1923 – Rio de Janeiro 2004) contista, romancista e cronista mineiro
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DA LAVRA MINHA



 

A VOZ PARNASIANA DE ALBERTO DE OLIVEIRA


Alberto de Oliveira
Palmital de Saquarema 1857 – Niterói 1937
Poeta fluminense

A Vingança da Porta


Era um hábito antigo que ele tinha:
Entrar dando com a porta nos batentes.
— Que te fez essa porta? a mulher vinha
E interrogava. Ele cerrando os dentes:

— Nada! traze o jantar! — Mas à noitinha
Calmava-se; feliz, os inocentes
Olhos revê da filha, a cabecinha
Lhe afaga, a rir, com as rudes mãos trementes.

Uma vez, ao tornar à casa, quando
Erguia a aldraba, o coração lhe fala:
Entra mais devagar... — Pára, hesitando...

Nisto nos gonzos range a velha porta,
Ri-se, escancara-se. E ele vê na sala,
A mulher como doida e a filha morta.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

O DIÁRIO DOS PENSADORES - PÁGINA 5


Esperar é o tormento do desejo.
- Joaquim Manuel de Macedo (Itaboraí 1820 – Rio de Janeiro
1882) poeta romancista, dramaturgo e jornalista fluminense

É verdade que a liberdade é algo precioso – tão preciosa que só deve
ser concedida a poucos.
- Vladimir Ilitch Ulianov, o Lenin (Simbirsk, atual Ulianovsk 1870 – Gorki 1924) político russo

Uma vida com drogas é escravidão, autodestruição e morte. Qualquer glamourização de seu uso é perigosa e enganadora. É mentira.
- Fernando Henrique Cardoso (Rio de Janeiro 1931) sociólogo, ensaísta e político fluminense, ex-presidente da República

Cada vez que nasce uma criança em teu quarteirão, um novo tempo começa a correr para alguém.
- Aníbal Machado (Sabará 1894 – Rio de Janeiro 1964) cronista, ensaísta, romancista e contista mineiro

Caminhante, não há caminho. Faz-se o caminho ao andar.
- Antônio Machado y Ruiz (Sevilha 1875 – Collioure, França 1939) dramaturgo e poeta espanhol

É importante para mim que as pessoas encarem a vida de um modo diferente vendo que as mulheres podem seduzir e ter fantasias sexuais.
- Louise Veronica Ciccone, a Madonna (Bay City 1958) cantora e atriz americana

Cada um ao nascer traz sua dose de amor, mas os empregos, o dinheiro, tudo isso nos resseca o solo do coração.
- Vladimir Maiakovski (Bagdadi 1893 – Moscou 1930) poeta e dramaturgo russo nascido na Geórgia

Bom que saibam que existem flores.
- Cyro de Mattos (Itabuna 1939) poeta, contista, novelista, cronista e jornalista baiano

Democracia com fome, sem educação e saúde, para a maioria, é uma concha vazia.
- Nelson Mandela (Umtata 1918) político sul-africano

É quase sempre preferível perder pela força a perder somente pelo medo da força.
- Niccolo Machiavelli (Florença 1469 - Idem 1527) ensaísta, político e filósofo italiano

sexta-feira, 6 de julho de 2007

LIBÉLULAS RUBRAS - 3ª TRÍADE





































A POESIA MARAJOARA DE ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA


Antônio Juraci Siqueira
Afuá, Ilha do Marajó, 1948
Poeta paraense

Noturno

Na fogueira da aurora eu me consumo
e ressuscito entre os lençóis da noite
para tecer meu ninho de discórdias
no frágil ramo do teu coração.

A minha pena – faca de dois gumes –
ao mesmo tempo fere e acaricia;
as minhas asas - guarda-sóis se abertas,
quando fechadas, grades de prisão.

Trago nas veias sangue canibal:
bebo esperanças, mastigo ilusões
e, às vezes, sorvo sonhos matinais.

Portanto não se engane: sou poeta
em cujo peito dorme um troglodita
que traz no coração pluma e punhal.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

A POESIA VERDADEIRA NA VOZ DE UM BRAVO SERTANEJO - OS MELHORES TRINADOS DO PATATIVA

Resenha
por Enz
o Carlo Barrocco

Ano passado Patativa do Assaré, cujo nome verdadeiro era Antônio Gonçalves da Silva (Assaré 1909 – Idem 2002) ganhou uma antologia de sua obra poética pelas mãos do também poeta, dramaturgo e compositor cearense Cláudio Portella (Fortaleza 1972), admirador confesso do grande poeta. Patativa do Assaré, Coleção Melhores Poemas (Editora Global, 2006, 384 páginas) reúne, como o próprio nome sugere, os melhores poemas desse cearense, inclusive com estudo introdutório assinado por Portella. A poética de Patativa se destaca pelo teor sociocultural. A preocupação que o poeta tinha pela sua gente tão penalizada do Nordeste, o sofrimento do sertanejo, o descaso dos políticos com as causas mais urgentes da região, enfim um digno representante do povo abandonado daqueles lados do Brasil. Assaré era um homem extremamente simples, mas com o raríssimo dom de lidar com as palavras. Com uma memória extraordinária, sabia de cor seus mais de mil poemas sem errar uma palavra. Os versos de Assaré não precisavam de ajustes, nasciam perfeitos. O livro contém belos poemas que foram gravados por alguns dos mais importantes cantores da MPB, entre os quais o Pernambucano Luiz Gonzaga (Exu 1912 – Recife 1989) e o conterrâneo de Patativa, Raimundo Fagner (Fortaleza 1949) . Os versos pungentes, a escrita forte deste filho do Vale do Cariri que também foi compositor, cantor e improvisador, é de uma beleza suprema. Os intelectuais brasileiros e também de fora do país se renderam à poesia do velho cantador tanto que Assaré foi alvo de estudos na Universidade de Sorbonne, em Paris, França, assim como na Universidade Federal do Ceará e na Universidade de São Paulo. Patativa do Assaré viveu 93 anos deixando para seus leitores um legado que Cláudio Portella, inteligentemente, reuniu neste livro. Não deixe de conhecer a poesia excepcional de Patativa do Assaré, cego de um olho, semi-analfabeto, lavrador (trabalhou na roça até os 70 anos de idade), mas de uma incrível sensibilidade. Um poeta na verdadeira acepção da palavra.

UM POEMA DO LIVRO PATATIVA DO ASSARÉ, COLEÇÃO MELHORES POEMAS
Caboclo Roceiro
Caboclo Roceiro, das plagas do Norte
Que vive sem sorte, sem terra e sem lar,
A tua desdita é tristonho que canto,
Se escuto o meu pranto me ponho a chorar
Ninguém te oferece um feliz lenitivo
És rude e cativo, não tens liberdade.
A roça é teu mundo e também tua escola.
Teu braço é a mola que move a cidade
De noite tu vives na tua palhoça
De dia na roça de enxada na mão
Julgando que Deus é um pai vingativo,
Não vês o motivo da tua opressão.
Tu pensas, amigo, que a vida que levas
De dores e trevas debaixo da cruz
E as crises constantes, quais sinas e espadas
São penas mandadas por nosso Jesus
Tu és nesta vida o fiel penitente
Um pobre inocente no banco do réu.
Caboclo não guarda contigo esta crença
A tua sentença não parte do céu.
O mestre divino que é sábio profundo
Não faz neste mundo teu fardo infeliz
As tuas desgraças com tua desordem
Não nascem das ordens do eterno juiz
A lua se apaga sem ter empecilho,
O sol do seu brilho jamais te negou
Porém os ingratos, com ódio e com guerra,
Tomaram-te a terra que Deus te entregou
De noite tu vives na tua palhoça
De dia na roça, de enxada na mão
Caboclo roceiro, sem lar, sem abrigo,
Tu és meu amigo, tu és meu irmão.

terça-feira, 3 de julho de 2007

O DIÁRIO DOS PENSADORES - PÁGINA 4


Perdoe seus inimigos, mas não esqueça seus nomes.
- John Kennedy (Brookline 1917 – Dallas 1963) político e ex-presidenteamericano

Prefira sempre necessitar menos a possuir mais.
- Thomas Kempis (Kempen 1380 – Idem 1471) religioso católico alemão

Matamos o tempo; o tempo nos enterra.
- Machado de Assis (Rio de Janeiro 1839 – Idem 1908) poeta, contista, romancista, dramaturgo e ensaísta fluminense

A gente encontra o próprio estilo quando não consegue fazer as coisas de outra maneira.
- Paul Klee (Münchenbuchsee 1879 – Muralto 1940) pintor suíço

Entre o bom senso e o bom gosto está a diferença entre a causa e o efeito.
- Jean de La Bruyère (Paris 1645 – Idem 1696) ensaísta e romancista francês

A hipocrisia é uma homenagem que a corrupção paga à probidade.
- La Rochefoucauld (Paris 1613 – Idem 1680) ensaísta francês

Há pessoas inteligentes que, por força de se deixarem adular, acabam estúpidas.
- Carlos Lacerda (Rio de Janeiro 1914 – Idem 1997) poeta, dramaturgo e político fluminense

Liberdade é o direito de fazer algo que não prejudique a outrém.
- Henry de Lacordaire (Recey-sur-Ource 1802 - Sorèze, 1861) orador e religioso católico francês

Eu fiz um acordo com o tempo,
nem eu fujo dele,
nem ele me persegue.
Um dia a gente se encontra.
- Mário Lago (Rio de Janeiro 1911 – Idem 2002) poeta, ator e compositor fluminense

Amar com o objetivo de ser amado é humano, mas amar com o simples objetivo de amar é angelical.
- Alfhonse de Lamartine (Maçon 1790 – Paris 1869) poeta e político francês

Se você disser umas verdades a uma pessoa pela frente, ela só as ouvirá de você. Mas se você fizer isto pelas costas, ela as ouvirá de outras quinze ou vinte pessoas.
-
Fran Lebowitz (Morristown 1950) ensaísta e jornalista americana


AGOSTINHO NETO: O LIBERTADOR DE ANGOLA


Agostinho Neto
Vila Catete, município de Icolo e Bengo 1922 – Moscou 1979
Poeta e político angolano

Voz do sangue

Palpitam-me
os sons do batuque
e os ritmos melancólicos do blue
Ó negro esfarrapado do Harlem
ó dançarino de Chicago
ó negro servidor do South
Ó negro de África
negros de todo o mundo
eu junto ao vosso canto
a minha pobre voz
os meus humildes ritmos.
Eu vos acompanho
pelas emaranhadas áfricas
do nosso Rumo

Eu vos sinto
negros de todo o mundo
eu vivo a vossa Dor
meus irmãos.

ALVARENGA PEIXOTO: O POETA INCONFIDENTE

Inácio José Alvarenga Peixoto, poeta fluminense (Rio de Janeiro 1744 – Ambaca, Angola 1793), estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janei...