sexta-feira, 29 de junho de 2007

PÉROLAS DE CARANANDUBA - Canto nº 1







































































UMA PÉTALA POÉTICA DE NILTO MACIEL


Nilto Maciel
Baturité, 1945
Poeta, contista, novelista e romancista cearense

Soneto crepuscular

Para Francisco Carvalho

Nos campos de meu pai antigamente
as chuvas inundavam meus pensares
e do pomar do céu pingavam frutos.
Ventos ninavam aves repousadas

nas árvores vigias de seu sono,
sentinelas da luz crepuscular.
As ovelhas baliam suas crias,
os vaga-lumes alumbravam tudo

e a solidão das vacas nos currais.
Duendes se assustavam co’os trovões.
Na escuridão dos quartos o perfume

do amor gemente à sombra dos lençóis.
Invernos que de mim se evaporaram
nos campos de meu pai antigamente.

terça-feira, 26 de junho de 2007

VEJA SE NÃO DÁ PRAZER! - AS CRÔNICAS MARAVILHOSAS DE LIA LUFT



Resenha
por Enzo Carlo Barrocco

A escritora Lia Luft lançou recentemente o livro de crônicas “Em Outras Palavras (Ed. Record, 2006, 223 páginas) fruto do trabalho semanal para a revista Veja. São 54 crônicas escritas para a revista desde 2004, cuja coluna chama-se Ponto de Vista. A escritora parte da premissa do questionamento. A cultura, o cotidiano, as relações humanas, a questão social, a política atual são abordados de maneira clara e simples levando o leitor a refletir sobre todos esses aspectos. As crônicas de “Em Outras Palavras” nos revelam ângulos que normalmente não seriam percebidos a olho nu, mas sob o olhar atento de Lia, o leitor se sente absolutamente seguro quanto ao entendimento dos assuntos abordados Das 54 crônicas selecionadas pela própria autora algumas sofreram alterações. Sobre essas alterações, Lia faz uma observação: “faz parte dos meus vícios, burilar meus textos enquanto for possível – pelo prazer e pelo respeito a mim mesma e ao meu leitor – não importa se é romance ou ensaio, poema ou crônica”. Devido a limitações de espaço na revista, Lia aproveitou para melhor se fazer entender. O otimismo é uma marca forte nos escritos da escritora, otimismo que tenta passar aos seus leitores, que não são poucos. Então, para quem não teve a oportunidade de ler as crônicas de Lia Luft, por qualquer motivo, na revista Veja, “Em Outras Palavras” é uma excelente chance para que as pessoas conheçam o excelente trabalho desta gaúcha de Santa Cruz do Sul, que além de cronista se dá muito bem escrevendo outros gêneros, como: poesias, contos, romances, peças teatrais e ensaios.


TRECHO DA CRÔNICA “PODE SER MELHOR”.

(...)

“A fome, as fomes: de dignidade, a essencial. De casa, saúde e educação, as básicas. Mas - não menos importantes - a fome de conhecimento, de possibilidades de escolha. Fome de confiança, ah, essa não dá para esquecer. Poder confiar no guarda, nas autoridades, nos pais e no país, e também nos filhos. Em nós mesmos, se nos acharmos merecedores. Confiar em quem votei, e em quem não recebeu meu voto: ser digno não é vantagem, é obrigação básica. Andamos tão desencantados, que ser decente parece virtude, ser honesto ganha medalha, e ser mais ou menos coerente merece aplausos”.

“Fome de conhecimento: não é alfabetizado quem apenas assina o nome, mas quem assina o que leu e compreendeu. De outro modo, perigo à vista. Não cursa uma verdadeira escola quem dela sai para a vida sem saber pensar, argumentar e discernir. A primeira condição para viver melhor é conhecer mais coisas, inclusive sobre a própria situação e as possibilidades de mudar. Não tomando, invadindo e assaltando, mas crescendo enquanto ser humano e membro produtivo da comunidade: família, trabalho, cidade, país”.

(...)

Imagem 1: Capa do livro "Em Outras Palavras"

Imagem 2: Lia Luft: Questionadora e instigante

A POESIA DE BOM CONSELHO DE RONALD FIGUEIREDO MONTEIRO

MÃE TERRA

Ronald Figueiredo Monteiro
Bom Conselho 1941

Poeta e religioso católico pernambucano


A terra sempre se devolve,
e nos devolve.
Cada fruto é um zigoto,
um aborto
ferido a punhais.
A terra sangra,
devolvendo sangues esfriados,
coalhos do que abraça em seu regaço,
náufragos e afogados nas rosas,
safiras,
excrementos.
Os lavradores partejam ressurreições.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

AS PRIMAS SÃO ÓTIMAS OU O HUMOR QUE VEIO DO RÁDIO


Carmem Verônica e Iara Jamra: a ordem é fazer rir

  • crônica
  • por Enzo Carlo Barrocco

A TV Globo acaba de reeditar o quadro “O primo Rico e o Primo Pobre”, agora na versão feminina dentro do programa humorístico Zorra Total (Sábados, 22 horas, Direção: Maurício Shermen). Nesta nova versão, Carmem Verônica (Recife 1933), Iara Jamra (São Paulo, 1953) e Tony Tornado (Paranapanema, SP 1930) dão graça a este quadro que por muitos anos, na versão original, tinha como protagonistas Paulo Gracindo (Rio de Janeiro 1911 – Idem 1995) e Brandão Filho (Rio de Janeiro 1920 – Idem 1998). Gracindo era um ator excepcional que se enquadrava em todos os gêneros. Foi apresentador de TV, ator de teatro, cinema e trabalhou em inúmeras novelas da Globo. Quem não se lembra de “O Bem Amado”, “O Casarão” “Os Ossos do Barão” e tantas outras novelas Globais. Brandão Filho a vida inteira interpretou o Primo Pobre. Assim como Paulo Gracindo, veio do Rádio mas começou trabalhando em circo, seguindo depois para a Rádio Nacional, onde permaneceu por 40 anos. Fez onze filmes para o cinema, entre os quais “O Bobo do Rei”, de 1937, “Os Caras-de-pau”, de 1970 e “Romance da Empregada”, de 1987. Brandão trabalhou ainda com Chico Anysio (Maranguape, CE 1931) na Escolinha do Professor Raymundo tanto no Rádio quanto na Televisão. Brandão, para quem não se lembra, trabalhou, também, na primeira versão do humorístico “A Grande Família”, fazendo a personagem que Rogério Cardoso (Mococa, SP 1937 – Rio de Janeiro 2003), também interpretou. Mas, voltando à nova versão, a Globo realmente acertou na volta deste excelente quadro. Carmem Verônica e Iara Jamra estão engraçadíssimas. Verônica, nos anos 50, foi uma das vedetes mais bonitas e cobiçadas do Brasil e já fez algumas novelas globais. Iara Jamra, atriz talentosíssima, já esteve trabalhando em algumas novelas da emissora e por muito tempo esteve emprestando seu talento ao programa Ra tim bum da TV Cultura de São Paulo. O afetado modo de ser da prima rica contrasta com as maneiras simples, ou melhor, simplórias da prima pobre. Excelente a idéia da direção do Zorra Total em trazer de volta este quadro que há muitos anos vem fazendo a alegria de gerações. Detalhe: Tony Tornado, o mordomo, também trabalhou na última versão masculina ao lado de Paulo Gracindo e Brandão Filho. “Prima você é ótima! – diz a outra – Prima, você é que é ótima!”.

CASSIANO RICARDO: O POETA VERDE-AMARELO

Cassiano Ricardo
São José dos Campos 1895 – Rio de Janeiro 1974)
Poeta, ensaísta e jornalista paulista





Relâmpago


A onça pintada saltou tronco acima que nem um relâmpago
de rabo comprido e cabeça amarela:
Zás!
Mas uma flecha ainda mais rápida que o relâmpago fez
rolar ali mesmo
Aquele matinal gatão elétrico e bigodudo
Que ficou estendido no chão feito um fruto de cor
que tivesse caído de uma árvore!


quinta-feira, 21 de junho de 2007

CURIOSIDADE

Miniconto

Enzo Carlo Barrocco

Estancou à porta com as vozes que vinham da sala. Franziu o sobrolho ou ouvir risadas. O chefe dela era um homem sério, reto, probo e sempre demonstrou serenidade diante dos funcionários. Vez por outra risinhos, vez por outra silêncio. Evidentemente, se fosse algo suspeito, a porta estaria trancada; no entanto não arriscou em conferir sua dúvida. Quem estaria lá? Por um momento fora ao banheiro e, certamente, naquele intervalo a pessoa havia entrado. “A curiosidade também mata” – pensou. Atendeu o telefone com o recado da portaria em relação a um documento urgente. Correu à portaria. “Meu Deus!” – pensou – “tomara que ela ainda esteja lá!”.

terça-feira, 19 de junho de 2007

O DIÁRIO DOS PENSADORES - PÁGINA 3


Toda guerra é ganha pelos generais e perdida pelos soldados.
- Carlos Drummond de Andrade (Itabira do Mato de Dentro 1902 –

Rio de Janeiro 1987) poeta, contista e cronista mineiro

Quem sabe adular também é capaz de caluniar.
- Napoleão Bonaparte (Ajaccio, ilha mediterrânea da Córsega 1769 –
ilha de Santa Helena, oceano Atlântico (na altura da Namíbia 1821) militar e imperador francês

Em política é a mesma coisa que em religião: o essencial não é estar na profissão do credo, mas na prática das obras.
- Rui Barbosa (Salvador 1769 – Petrópolis, RJ 1923) ensaísta, jornalista, político, jurista e orador baiano

As regras e os modelos sufocam o gênio e a arte.
- William Hazlitt (Maidstone 1778 – Londres 1830) crítico literário e ensaísta inglês

Devemos perdoar nossos inimigos, mas não antes de serem enforcados.
- Henrich Heine (Düsseldorf 1797 – Paris 1856) poeta alemão

Eu não ouço rádio nem discos. Para ser sincero eu não me preocupo com que os outros fazem com a minha música.
- Tom Jobim (Rio de Janeiro 1927 – Nova York 1994) cantor e compositor fluminense

A beleza da vida reside na variedade. Mesmo o mais terno amor pede para ser renovado com intermédios de ausências.
- Samuel Johnson (Lichfield 1709 – Londres 1784) poeta inglês

Não se comprometa. Você é tudo que tem.
- Janis Joplin (Port Arthur 1943 – San Francisco 1970) cantora e compositora americana

A justiça é o direito do mais fraco.
- Joseph Joubert (Montignac-le-Comte 1754 - Villeneuve-le-Roi 1824) ensaísta francês

Não devemos mudar nada nas crianças sem primeiro verificar se somos nós que precisamos de umas mudanças.
- Carl Jung (Kesswil 1875 - Küsnacht 1961) psicanalista suíço

A pátria mais perfeita será a mais local por amor à gleba e a mais universal pelo amor ao mundo.
- Guerra Junqueiro (Freixo de Espada à Cinta 1850 – Lisboa 1923) poeta português

Imagem da Página: Drummond

PABLO NERUDA, O POETA UNIVERSAL


Pablo Neruda
(Parral 1904 - Santiago 1973)
Poeta Chileno

SE CADA DIA CAI

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.


AMANHECENTE





sexta-feira, 15 de junho de 2007

UMA FLOR DO CANTEIRO DE MARIA


Maria João Cantinho
Lisboa 1963

Poeta e contista portuguesa

Dai-me o exacto exercício das palavras
flores de carne, sangradas
até à minúcia. Rigorosas.

Mas como dizer a dança
da luz, sobre os teus passos,
o riso, a errância dos gestos
sem que as metáforas destruam a exactidão
e a música se enrole nas sílabas,
como dois amantes
esquecendo a dualidade,
entrando na vertigem da unidade?

quinta-feira, 14 de junho de 2007

PEDAÇOS DE UMA VIDA - A PROSA APURADÍSSIMA DE TRUMAN CAPOTE


Resenha

por Enzo Carlo Barrocco

A Companhia das Letras lançou no final do ano passado o livro “20 Contos de Truman Capote” (2006, 280 páginas) condensando 40 anos do trabalho ficcional deste autor americano. A evolução na prosa de Truman Capote (1926-1984) pode-se sentir cronologicamente a cada conto deste livro que é de uma técnica que vai se aprofundando a cada novo título. Destaque para três excelentes momentos: As paredes São Frias, Pechincha e Um Natal. Capote teve uma infância conturbada por culpa exclusiva dos pais que o deixaram aos cuidados de parentes. Apenas a sua prima Sook Faulk o compreendia de modo mais terno. Aliás, Faulk aparece em alguns de seus contos. A descrição da vida adulta do autor é mostrada através de relacionamentos vazios, luxúria e loucura cometidos pelo pessoal abastado de Nova Orleans (onde o autor nasceu) e Nova York, cidades que Capote tinha um tanto de intimidade. O passado do escritor é facilmente notado em alguns contos, entretanto não há uma divisão estanque no livro entre a infância e a vida adulta, visto que, esses contos não tratam de uma autobiografia, mas sim, pedaços de acontecimentos na vida do escritor. Capote faz magistralmente a descrição dos lugares, objetos, cenários, fins de tarde. Ele foi um dos representantes do chamado New Journalism e esta técnica, digamos assim, em muito contribuiu para a sua evolução criativa. Portanto, “20 Contos de Truman Capote” nos leva ao mundo conturbado deste excelente escritor americano.

TRECHO DO CONTO “AS PAREDES FRIAS”

(...)

"Bom, vou dizer uma coisa para você, eu não me dou bem com esse tipo de vida, não gosto de outros homens mandando em mim. Você gostaria?"
Em vez de responder, ela pôs um cigarro na boca. Ele segurou o fósforo para ela, e ela deixou a mão roçar na dele. A mão dele tremia, e a chama não estava muito firme. Ela tragou e disse: "Você quer me beijar, não quer?".
Olhou atentamente para ele e viu o rubor se espalhar lentamente por seu rosto.
"Por que não quer?"
"Você não é esse tipo de garota. Eu teria medo de beijar uma garota como você, além disso você só está caçoando de mim."
Ela riu e soprou uma nuvem de fumaça em direção ao teto. "Pare, isso parece coisa tirada de um melodrama do tempo da iluminação a gás. Aliás, o que é 'esse tipo de garota'? Só uma idéia. Você me beijar ou
não tem a mínima importância. Eu poderia explicar, mas para que me preocupar? Você provavelmente acabaria achando que eu sou ninfomaníaca."
"Eu nem sei o que é isso."
"Diabos, é justo isso que quero dizer. Você é um homem, um homem de verdade, e eu estou tão cansada desses rapazes fracotes e afeminados como o Les. Eu só queria saber como seria, é isso."
Ele se inclinou sobre ela. "Você é uma garota engraçada", disse, e ela estava nos seus braços. Beijou-a, deslizou a mão pelo ombro dela e pressionou seu seio.
Ela se virou e o empurrou com violência, e ele se estatelou no tapete verde e frio.
Ela se levantou e ficou parada diante dele, e eles se encararam. "Seu sujo", ela disse. Depois deu um tapa no rosto perplexo dele.

(...)


Imagem 1: "20 Contos...": As letras de um gênio

Imagem 2: Truman Capote: Jornalismo a seviço da literatura

terça-feira, 12 de junho de 2007

O DIÁRIO DOS PENSADORES - PÁGINA 2



Coisas menores distraem mentes pequenas.
- Doris Lessing (Tayler 1919) novelista e contista inglesa nascida na Pérsia, atual Irã

Como vai ser a terceira guerra mundial, eu não sei; mas a quarta vai ser a paus e pedras.
- Albert Einstein (Ulm 1879 – Princenton , EUA 1955) físico americano, nascido na Alemanha

Não basta pedir perdão pelos erros de ontem. É preciso acertar o passo hoje.
- D. Hélder Câmara (Fortaleza 1909 - Recife 1999) religioso católico cearense, bispo emérito de Recife e Olinda

Um baixo amor os fortes enfraquece.
- Luiz Vaz de Camões (Coimbra 1524 – Lisboa 1580) poeta português

O homem crê porque tem medo de não crer.
- Joracy Camargo (Rio de Janeiro 1898 – Idem 1973) diretor teatral, jornalista, cronista e dramaturgo fluminense

A verdade alivia mais do que machuca e estará sempre acima de qualquer falsidade.
- Miguel de Cervantes (Alcalá de Henares 1547 – Madrid 1616) poeta, novelista, romancista e dramaturgo espanhol

Nenhuma sociedade pode fazer uma constituição perpétua, ou sequer, uma lei perpétua.
- Thomas Jefferson (Albermarle County 1743 – Idem 1826) político e ex-presidente americano

Quem não quer pensar é um fanático; quem não pode pensar é um cretino; quem não ousa pensar é um covarde.
- Francis Bacon (Londres 1561 – Idem 1626) filósofo e político inglês

A indigestão é a encarregada por Deus de pregar a moral humana.
- Victor Hugo (Besançon 1802 – Paris 1885) poeta, dramaturgo, romancista e ensaísta francês

Uma máquina pode fazer o trabalho de cinqüenta pessoas comuns. Máquina alguma pode fazer o trabalho de um homem incomum.
- Elbert Green Hubbard (Bloomington 1856 - Em um naufrágio na costa Irlandesa 1915) filósofo e ensaísta americano

É no embate dos contrários que se chega à perfeita harmonia.
- Heráclito (Éfeso 540 – Idem 475 a C.) filósofo grego


Imagem da página: Doris Lessing

A POESIA TAPAJÔNICA DE ZEMARIA PINTO


Zemaria Pinto
Santarém 1957
Poeta, dramaturgo e ensaísta paraense

Noturno, Opus 1

tua sombra salta do chão
e vai além da minha cabeça

teu olho majestoso e nu
clareia o espaço em minha volta

estás nua e todo teu corpo brilha
indiferente à incandescência dos faróis
e ao gemer dos edifícios em chamas

quarta-feira, 6 de junho de 2007

LUZ

A TRADIÇÃO POÉTICA MINEIRA EM AFONSO HENRIQUES NETO


Afonso Henriques Neto
Belo Horizonte 1944
Poeta mineiro

POEMA

A paisagem não vale a pena.
Pesa dizê-lo assim tão duramente,
mas o que posso fazer contra os mascarados

que penetraram os altos muros

e agora coabitam os aposentos desolados?

Já não vale a pena a manhã.

Os embuçados chegaram em surdina

e foram destroçando todos os pilares,

todas as primaveras, as lúcidas esperanças,

vultos tão horrendos que paralisaram o dia.

A noite não significa mais nada.

As casas dormem e não significam nada.
O vento cortou-se em mil fatias de desespero.

Que dimensão canta além da treva,

a face repousada, os olhos claros?

FLORES DE TRACUATEUA - Canto nº 2






































































terça-feira, 5 de junho de 2007

JIRAU DI/VERSO N° 3

JIRAU DI/VERSO
Nº 03 – Maio.2006
por Enzo Carlo Barrocco

A Poesia Acreana de Jorge Tufic

O POEMA

Voragem

Rostos que nunca vi, jacintos murchos
cujas sonatas frias me tocaram,
estes rostos não quero: eles são breves
no desfile das pálpebras cerradas.

Penso naqueles outros, familiares
rostos de toda vida. Cata-ventos
da rua ainda sem nome, alagadiço
porão da infância, arpejos e trigais,

dai-me a ver novamente ou mesmo em sonho,
estes semblantes nunca repetidos,
graves alguns, mas todos inseridos

na memória dos dias voluntários.
Cemitério, talvez, dessas lembranças,
todas, em mim, são rosas e crianças.


O POETA

Jorge Tufic, poeta, cronista, ensaísta e jornalista, acreano de Sena Madureira, no convés da fragata desde 1930, é um vigoroso poeta amazônico, que camba o seu discurso poético para o universo regional. Os anseios do homem amazônico dão cores a sua vibrante poesia. A partir do início da década de 90, fixou-se em Fortaleza – CE, dedicando-se exclusivamente à literatura. Sua estréia literária aconteceu em 1956, com a publicação de Varanda de Pássaros.

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Estante de Acrílico
Livros Sugestionáveis

Noites Brancas” (Novela)
Autor: Fiódor Dostoievski
Edição: Editora América do Sul Ltd.
O amor não correspondido entre um homem solitário e uma mulher apaixonada por outro homem. Uma história trivial, mas sob a perspectiva de Dostoievski ganha refino e sofisticação.

“Paris é uma Festa ” (Romance)
Autor: Ernest Hermingway
Edição: Editora Civilização Brasileira S.A.
A Paris entre os anos de 1921 e 1926, retratada sob o olhar aguçado de Hermingway. “Paris é uma Festa” é uma de suas obras menos conhecidas, no entanto, não menos interessante.

“Obras completas” (Poesias)
Autor: Rodrigues Pinajé
Edição: Cultural/Cejup
O Príncipe dos Poetas Paraenses e toda a sua obra reunida nesta antologia poética. Pinajé foi, e continua sendo, um dos nossos grandes poetas e merece toda e qualquer homenagem que possamos lhe prestar.

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A FRASE DI/VERSA

”Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males”.
- François Marie Arouet, o Voltaire (Paris 1694 – Idem 1778) contista, romancista, dramaturgo e filósofo francês

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DA LAVRA MINHA

GEOMETRIA

Enzo Carlo Barrocco

Pouca luz
assoma a tua sombra
em mim.
A mão, lua-mão,
encontra a minha mão.
No mais, amor,
desejo a sombra que a pouca luz assoma.

Nem ouso o sensual
já que teu sorriso é geométrico e fatal.

A POESIA ILUMINADA DE ÂNGELO D´ÁVILA


Ângelo d´Ávila
Araxá, 1924
Poeta e contista mineiro

SINAIS DE CHUVA NO SERTÃO

Quando acorda a cigarra-do-sertão,
solta o assobio a favor do vento,
não é cantiga, é aviso, é sofrimento,
gemido aterrador da sequidão.

O ronco dos guaribas é trovão
que responde depressa esse lamento,
marruás chifra barranco e o jumento
bate a pata no cupim, arranca chão.

Saparia dá sinal... e os paturis,
águas-sós dão foguetes na lagoa,
os ventos batem palmas nos buritis.

Os olhos têm sorriso, o céu descerra
seus cílios sobre o sol, vem chuva boa,
vêm lágrimas do céu regar a terra.


sexta-feira, 1 de junho de 2007

QUEREM ACABAR COMIGO! - A BIOGRAFIA QUE O REI PROCESSOU

Resenha

por Enzo Carlo Barrocco




O historiador Paulo César Araújo lançou recentemente o livro Roberto Carlos em Detalhes (Editora Planeta do Brasil, 2006, 450 páginas), que é a biografia do cantor e compositor, contando minúcias de sua vida que, inclusive, o aborreceu a ponto de processar o autor para que o livro fosse retirado de circulação. Araújo pesquisou exaustivamente e reuniu em torno de 200 entrevistas exclusivas. Análises pormenorizadas dos momentos mais importantes da vida de Roberto, desde Cachoeiro do Itapemirim, até momentos mais recentes, passando pelo início dos anos de 1960, assim como pelo Festival de San Remo, na Itália, em 1968. Roberto, entretanto, não gostou de algumas narrativas do livro, que ele denominou de invasão de privacidade. Ora, todos os acontecimentos, tanto na vida profissional quanto na vida particular do artista são de inteiro conhecimento de todos, não se sabendo, ao certo, as razões que levaram o artista a tomar essa drástica atitude. O desfecho desse tumultuado episódio aconteceu no dia 27 de abril passado no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste da cidade de São Paulo quando o cantor Roberto Carlos, a Editora Planeta e o autor, Paulo César Araújo, chegarama um consenso sobre a obra. A editora Planeta se prontificou a recolher todos os exemplares do livro no prazo máximo de 60 dias e brecar a publicação de mais livros e entregar a Roberto os quase 11 mil livros que estavam estocados no almoxarifado da editora. Roberto, por outro lado, concordou em não receber qualquer indenização por parte dos indiciados. Entretanto, hoje com o advento de inúmeros meios de comunicação, esta biografia não está imune à pirataria mesmo porque a obra já caiu na Internet, consequentemente, sabemos todos que não há retorno. Portanto, Roberto, a meu ver, fez tempestade em copo d´água, como se diz por aí, já que todos sabemos que o proibido aguça a curiosidade. Disse o Rei em uma reportagem: “As coisas que eu vi e que tenho conhecimento me desagradam muito. Para começar, é não-autorizada. Tem coisas não verdadeiras, que ofendem a mim e a pessoas queridas. É um absurdo, uma falta de respeito lançar mão da minha história, que é um patrimônio meu. Isso me irrita, me incomoda, me entristece”, disse o artista na coletiva”. Os tais trechos polêmicos que teriam desagradado Roberto seriam os que tocam nos supostos relacionamentos dele com a atriz Sônia Braga e com a cantora Wanderléia, além da exposição de detalhes dos casamentos com Myrian Rios e Maria Rita. O Rei não ficará, de maneira alguma, livre deste incômodo, visto que a Internet está aí para não deixar que o livro se perca totalmente.


TRECHO DO LIVRO “ROBERTO CARLOS EM DETALHES”

(...)

Zunga (Roberto Carlos) e Fifinha pararam numa beirada entre a rua e a linha férrea para ver o desfile. Atrás deles, uma velha locomotiva a vapor começou a fazer a manobra para pegar o outro trilho e seguir a viagem. Uma das professoras temeu pela segurança das crianças próximas do trem e gritou para elas saírem dali. Mas, ao mesmo tempo, avançou e puxou a menina que caiu sobre a calçada. Roberto Carlos se assustou com aquele gesto brusco, recuou, tropeçou e caiu na linha férrea segundos antes de a locomotiva passar. A locomotiva avançou por cima do garoto que ficou preso embaixo do vagão, tendo sua perninha direita imprensada sob as pesadas rodas de metal.

(...)


Imagem 1: Capa do Livro Roberto Carlos em Detalhes

Imagem 2: Roberto: um "Rei" incomodado

A POESIA MORA EM ELIANA


Eliana Mora
Rio de Janeiro 1948
poeta fluminense


Desafio aos cientistas de plantão

Uma liga de cimento e cal
poderia estar no lugar de minhas veias
e um líquido explosivo
resistente
complacente e vivo
seria um sangue novo
alternativo

E eu seria uma cobaia de mim mesma
a observar
se aquele círculo de fogo saberia
resistir

Ou encontrar alguma fórmula
ideal
de retirar de mim
aquela velha dor

Sem colorir meu chão de tinta
rubra

ALVARENGA PEIXOTO: O POETA INCONFIDENTE

Inácio José Alvarenga Peixoto, poeta fluminense (Rio de Janeiro 1744 – Ambaca, Angola 1793), estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janei...