quinta-feira, 20 de setembro de 2007
COM ISMAEL NERY POR OUTROS CAMPOS DE TRIGO
por Enzo Carlo Barrocco
Ismael Nery, pintor, desenhista, ilustrador, cenógrafo, poeta e filósofo paraense (Belém 1900 – Rio de Janeiro 1934) aos nove anos de idade se mudou com a família para a então Capital Federal. Em 1915, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, no entanto a abandonou algum tempo depois, pois não se adaptou à disciplina escolar. Em 1920, viajou para a Europa tendo freqüentado a Academia Julian, em Paris. Voltou ao Brasil algum tempo depois vindo a trabalhar no Patrimônio Nacional do Ministério da Fazenda, onde conheceu o poeta Murilo Mendes (Juiz de Fora 1901 – Lisboa 1975), seu amigo por toda a vida. Em 1922 casou-se com a poeta Adalgisa Ferreira (Rio de Janeiro 1905 – Idem 1980) que depois viria a ser conhecida como Adalgisa Nery. Em 1926, Ismael deu início a um sistema filosófico de fundamentação católica e neotomista, cujo nome Murilo Mendes batizou de Essencialismo, mas esse sistema em nada se converteu visto que Ismael não deu prosseguimento a ele. Em 1927 fez outra viagem à Europa onde entrou em contato com o pintor bielorusso Marc Chaggal (Vitebsk 1887 — Saint-Paul-de-Vence, França, 1985) e outros pintores surrealistas. Sua obra sofreu influências importantes como a metafísica do pintor italiano nascido na Grécia Giorgio de Chirico (Vólos 1888 – Roma, Itália 1978) e do cubismo do pintor espanhol Pablo Picasso (Málaga 1881 – Mougins, França 1973). A figura humana, retratos, auto-retratos e nus são as suas preferências. Trabalhou, também, em várias técnicas aplicadas em desenhos e ilustração de livros. Em 1931, contraiu tuberculose e, a partir daí, suas figuras tornaram-se mais viscerais e mutiladas. Durante os seus 33 anos de vida participou somente de três exposições individuais e outras quatro coletivas. Esquecido por mais de 30 anos foi resgatado a partir da VIII Bienal de São Paulo, em 1965. Nery era um homem à procura de si mesmo. Renegava veementemente a condição de pintor, preferindo ser filósofo. Mendes escreveu para o jornal o Estado de São Paulo: “...Nery achava que muitas intenções da pintura já estavam realizadas definitivamente; por exemplo, a primeira vez que viu Tintoretto, achou inútil continuar a pintar...”. Os críticos dividem a obra de Nery em três fases: de 1922 a 1923, a expressionista; de 1924 a 1927, a cubista, com evidente influência da fase azul de Pablo Picasso; finalmente, de 1927 a 1934, adotou o surrealismo, sua fase mais importante e promissora. Murilo Mendes preservou alguns desenhos e poesias de seu amigo, sendo responsável pelo redescoberta de Nery nos anos 1960. Portanto, meus amigos, homenageemos Ismael porque homenagens, sob todos os aspectos, ele merece.
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