por Enzo Carlo Barrocco
“Bala na Agulha”: dólares e trabuco
Embora a primeira publicação tenha saído em 2003, “Bala na Agulha” (Objetiva, 2007, 168 páginas) vem a contento agora neste ano. Marcelo Rubens Paiva, paulista da capital, romancista, cronista e jornalista, no convés da fragata desde 1959, nos apresenta a história cheia de aventura de um jovem brasileiro que vive ilegalmente nos Estados Unidos vendendo cocaína antes de ter trabalhado como garoto de programa. Flagrado pela polícia, vê todas as suas economias sumirem. Um dos seus contatos na embaixada brasileira em Nova York promete a ele um passaporte para fugir, sem que a promessa seja cumprida. O protagonista se vê enredado por várias situações que o coloca em perigos diversos, como estupro, assassinato, prostituição, etc. O gênero policial requer um especial cuidado por parte do autor para que a narrativa não caia nas armadilhas do clichê, entretanto, Marcelo não dá muita importância a esse fato. Por outro lado, as cenas são narradas apressadamente. Um pouco menos de pressa faria muito bem a esse romance que também não pretende ser um best-seller. Mas se você é fã do gênero policial experimente “Bala na Agulha”. Marcelo Rubens Paiva, aliás, já ganhou o Prêmio Jabuti, em 1983; Moinho Santista, em 1985 e Shell de Teatro, em 2000. Estudou na Escola de Comunicações e Artes da USP, freqüentou o mestrado de Teoria Literária da Unicamp e o King Fellow Program da Universidade de Stanford, na Califórnia. Publicou cinco romances: Feliz ano velho (1982, Prêmio Jabuti), Blecaute (1986), Uabrari (1990), Bala na agulha (1992) e Não és tu, Brasil (1996). Publicou também o livro de crônicas As Fêmeas (1994). Foi traduzido para o inglês, espanhol, francês, italiano, alemão e tcheco. Como dramaturgo, escreveu: 525 linhas (1989); O predador entra na sala (1997); Da boca pra fora – e aí, comeu? (1999, Prêmio Shell); Mais-que-imperfeito (2000); Closet Show (2001); e No retrovisor (2002). Além de todos esses trabalhos publicados, Marcelo se destacou, também, como crítico literário da Revista Veja, apresentador do programa Fanzine da TV Cultura, ainda, colunista e articulista do jornal Folha de São Paulo e da Revista Vogue RG.
TRECHO DO LIVRO “BALA NA AGULHA”
(...)
Aeroporto. Kennedy ou La Guardia? Do primeiro saem mais vôos internacionais. O segundo é mais caótico. Entrei num táxi e pedi o La Guardia.
Quer mesmo saber?
Foi a primeira vez que atirei em alguém e, naquela circunstância, faria de novo. O tiro foi para me dar tempo. A cena deixaria o motorista em pânico. A primeira coisa que faria seria correr para um hospital.
Agora eu digo: antes ele do que eu.
Se o escocês morresse, melhor para mim que ganharia, então, uma nova identidade e poderia usufruir dela por um bom tempo. Se vivesse, sorte dele. Mas até conseguir dizer quem era, eu já estaria longe, depois de ter usado seu nome: Paul Surrender - solteiro, 27 anos, visto de permanência para um mês.
A maioria dos vôos que chegam num país fica em terra algumas horas, o suficiente para reabastecer, trocar a tripulação, etc. Sua passagem era de ida e volta. O avião que trouxera Paul Surrender seria o mesmo que me levaria embora. Londres. Fim de linha. Não teria problemas em viver por lá, até me organizar melhor e partir pra outra. Em dinheiro consegui mais de mil libras e quase dois mil dólares, incluindo os do motorista de táxi. O bloco de travellers foi picotado e jogado pela janela. Li com atenção os dados do passaporte procurando memorizá-los. Eu estava pronto.
(...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário